Algo se mexe no frio lago da
luz. Existe uma força, por enquanto estranha, no centro do lago que agita a
água e provoca leves ondas, sacolejando sutilmente as pedras da margem. Me aproximo
e, do parapeito da ponte que adorna o lago artificial, percebo um algo quase
irresistente.
É um corpo. Humano! Involuntariamente
trépido, de frio e medo. E pelo avesso da face, deduzo, à beira do afogamento. Debruço-me
sob a ponte e observo-o com todas as minhas ponderações: Faz frio, é fato! A
névoa sob a água, a fumaça ao redor da boca, o orvalho madrugal e o capote.
Tudo denuncia o frio mais
invernal e, enquanto isso, alguém se afoga. Estou apenas comigo diante da cena,
mas, e se não? E se de mãos dadas com a futura mãe dos meus filhos? Atiro-me bravamente
ao congelante lago e salvo o desconhecido? Aceitaria Hércules uma pneumonia?
E se, mais anônimo, deparo-me
com um punhado de incapazes angustiados, acenando ao pré-morto no lago,
atiro-me? Ou se, sob a lente de uma câmera do horário nobre? Ou pior, diante de
pequenos e marejados olhos infantis dos filhos da vítima do lago? Quando é que me
molho?
Quando é que, afinal, o
altruísmo sobrepuja a vaidade? Julgando que, de alguma forma ou momento,
sobrepujaria. A triste verdade é que, a vida de um possível suicida está nas
minhas mãos, ou, pior, sob a tutela leviana da minha vaidade. E, faz um frio do
cão, volto a ressaltar!
Estou sozinho no lago da luz
no alto da madrugada e, agora os espasmos são menos frequentes. E cessam. Se
alguém perguntar, eu nunca estive aqui! Amanhã pela manhã, quando a polícia e os
jornais terminarem seu trabalho, estarei acordando, e aos olhos da lei, eu nunca
estive aqui!
2 comentários:
Gostei do seu texto Fa. Alias, vou checar mais regularmente o seu blog. Continue escrevendo!!
Obrigado Paula! Pela leitura e lisonja! Muito me incentiva!
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