Tocou ruidosamente o balcão com
o copo vazio e acenou ao garçom que completasse a dose, depois pediu que
dobrasse. Tinha o olhar vago e a respiração cansada, típica dos desmotivados.
Bebericava sem pressa e assistia, inerte, as pedras de gelo diluírem-se lentamente
na vodca.
Estava àquele balcão havia horas
e, ao mesmo tempo, estava em lugar nenhum. Desde os últimos dez ou doze anos, tinha
parado de contar. Era a perfeita definição do fracasso. Um emprego de merda e
uma vida social de merda, especialmente após a separação. Nenhum filho.
Mas não se ocupava em punir a
própria existência. Queria apenas suportar o fim de mais um dia ordinário. Vestia-se
com a habitual gravata turquesa e a camisa branca de mangas curtas. O broche da
concessionária e a carta de demissão amassada, denunciavam sua mediocridade.
Pretendia apenas um pouco de
solidão antes de entregar-se ao pesado e agitado sono dos embriagados. Mesmo
assim, aproximou-se sem cerimônias uma bela senhora: “A vida tem te tratado mal,
meu amor?” – “Desde que me lembro, sim!” – “E que tal um pouco de diversão?”.
“Não sou do tipo que se
diverte...” – “Isso não é possível, todo mundo se diverte de vez em quando!” – “Você
acha? E tem alguma ideia?” – “Que tal uma foda, aqui mesmo, no banheiro
masculino!” – “Claro, porque não?” – “E o que acha de acertarmos quinhentas
pratas?”.
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