domingo, 8 de junho de 2014

Uma Puta no Balcão


Tocou ruidosamente o balcão com o copo vazio e acenou ao garçom que completasse a dose, depois pediu que dobrasse. Tinha o olhar vago e a respiração cansada, típica dos desmotivados. Bebericava sem pressa e assistia, inerte, as pedras de gelo diluírem-se lentamente na vodca.

Estava àquele balcão havia horas e, ao mesmo tempo, estava em lugar nenhum. Desde os últimos dez ou doze anos, tinha parado de contar. Era a perfeita definição do fracasso. Um emprego de merda e uma vida social de merda, especialmente após a separação. Nenhum filho.

Mas não se ocupava em punir a própria existência. Queria apenas suportar o fim de mais um dia ordinário. Vestia-se com a habitual gravata turquesa e a camisa branca de mangas curtas. O broche da concessionária e a carta de demissão amassada, denunciavam sua mediocridade.

Pretendia apenas um pouco de solidão antes de entregar-se ao pesado e agitado sono dos embriagados. Mesmo assim, aproximou-se sem cerimônias uma bela senhora: “A vida tem te tratado mal, meu amor?” – “Desde que me lembro, sim!” – “E que tal um pouco de diversão?”.

“Não sou do tipo que se diverte...” – “Isso não é possível, todo mundo se diverte de vez em quando!” – “Você acha? E tem alguma ideia?” – “Que tal uma foda, aqui mesmo, no banheiro masculino!” – “Claro, porque não?” – “E o que acha de acertarmos quinhentas pratas?”.

“Então terei que rejeitar, estou liso e demitido!” – “Você me entendeu mal... Estou te oferecendo dinheiro!” – “Espera, vou te comer e ainda ganhar uma grana?” – “Sim, comigo é assim. Te incomoda?” – “Nem um pouco... pervertida!” – “Ótimo, então me acompanha... puta!”.

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