terça-feira, 30 de abril de 2013

E essa Pressa Toda?




Temos uma urgência absurda para o mundo. As coisas todas que acontecem em todo o canto. Dispomos de toda essa tecnologia irrefreável e informativa, que deveria nos beneficiar mas que, pela inversão de valores, supre mais uma carência individual que educa ou promove.

Retrocedemos, caros colegas! Na pressa de absorver multimídicamente as informações que o mundo oferece, nos tornamos preguiçosos. É tanta novidade que já não fazemos qualquer esforço à descoberta. Recebemos no colo flácido tudo o que acontece por aí. Bom e ruim.

Por celular, por e-mail, na capa dos portais. O mundo anda virtual demais (bem como esse texto). Vamos sequer às bancas. Enciclopédias são arcaicas. Até bocejo já virou app de iphone. Confiamos tanto na pressa do mundo moderno que abdicamos da nossa urgência intelectual.

Alienados de nós mesmos. Desenvolvemos (sob aplausos) a ferramenta que nos exime da responsabilidade da criação. Robotize! Para ter mais tempo para você, crie uma máquina capaz de criar o que te cabe criar. E vá picoletear na praça. Tutti-frutize sua existência, jovem!

Que nosso futuro é binário. E nossa cultura, reflexo imediato de como evoluímos cotidianamente. Se mecanizamos o desabafo do coração e delegamos a urgência da criação, só nos resta um futuro mecânico e frio. Lambuzado de WD-40 (que poucos conhecem a origem).

A verdade é que, nesse mundo de polivalências verdadeiras, já não há nenhuma verdade absoluta. Acreditamos em tudo ao mesmo tempo em que desconfiamos de todos. Subvertemos valores em um piscar de olhos e, nessa velocidade da luz, acabaremos no escuro.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Na Velocidade das Lesmas



Miro na política dos caramujos. Aliás, me orgulho muito dos caramujos que sabem mesmo ir além da condição caramújica deles. E se digo, é com conhecimento de causa, que os conheço bem! Ontem a noite, juro a vocês, brindei três ou quatro garrafas numa roda molúscula!

E foi lá pelo terceiro copo que um deles disse: “Rapaz, me trás uma cerveja bem gelada que, se eu saio para buscar talvez não volte ou, se voltar, perdeu o gelo!” – No caminho à geladeira, gargalhei tanto quanto chorei da clareza limitante que têm meus simpáticos amigos viscosos.

Os caramujos não têm tempo a perder nesse mundo e rastejam seu pouco tempo em velocidade milimétrica. Quase me falta ar, só de pensar no tempo que levam para ir daqui a ali. A noção que eu tinha, antes da noite de ontem, é que os caramujos morriam, de tédio!

Aí o mais sábio deles, já ebriizado como todos nós, me contou sem nenhuma pressa que, pressa, é coisa para otário! “Pense em nós dois, humano!” – Veio ele com a lição – “Minha lentidão e poucos anos, são exatamente como suas pernas apressadas e seus tantos anos”.

O maldito comparou toda minha trajetória, entre pernas, rodas e asas, e me provou por A mais B que não há muita vantagem nessa condição bípede/sapiens/apressadus. Tudo o que eu vejo ao longo dos anos é tudo o que ele vê. E apenas duas coisas determinam nossas espécies:

A primeira é a cerveja gelada que, segundo ele, é o grande trunfo do ser humano, pois, os moluscos (pobres moluscos) nunca conseguem uma cerveja gelada por conta própria. A outra é a paciência que, o ser humano (pobres humanos) nunca obtém por conta própria. E foi além:

“Quando te digo paciência, humano, me refiro à paz da ciência. Conhecer o que te cabe conhecer, sem esperar que seja uma necessidade urgente. Tome seu tempo para descobrir as coisas. Beba uma cerveja no caminho. É saborosa, não é? Deguste essa cerveja. E a vida!”.

Nessa hora fui buscar mais uma garrafa e gritei de longe: “Opa, essa tá trincando!” – E todos eles vibraram, sabendo que, mesmo de longe, eu traria o néctar ainda em condição polar para a roda. Aí o sábio fez questão de ratificar a filosofia ébria, sacramentando-a à conversa:

“O que te faz feliz, humano: A rotina das coisas boas, ou a coisa boa que surpreende?” – Pensei primeiro na coisa boa que se repete sucessivamente, mas, a repetição cansa qualquer coisa boa, tornando-a óbvia, como a cerveja gelada. Optei pela surpresa, convicto da escolha.

“Pois essa é a única felicidade possível!” – Garantiu meu guru lêsmico – “Gastei mais de meia vida para sentar nessa mesa com você, quando eu for embora, é para morrer pelo caminho. Não posso contar com a felicidade das coisas que se repetem porque não há garantias”.

“E se não há garantias, prefiro a expectativa despretensiosa das surpresas. Eu jamais conseguiria atravessar o mundo ou outras culturas, quiçá um jardim florido! Então minha felicidade está na infimidade oculta em cada centímetro adiante, sempre adiante.” – Disse ele.

Nesse momento, contemplamos todos, o desejo pela plenitude da felicidade. Nos abraçamos e nos homenageamos com a sinceridade exacerbada do álcool. Eu, ainda catártico, fiquei à mesa um tempo, enquanto eles se despediam de mim e entre eles. Efusivos e apaixonados.

Alguns bons minutos depois, voltei a mim e paguei a conta. Levantei zonzo e fui em direção a saída, mas, antes de chegar, passei por eles e cada um jazia pelo caminho, uns aqui outros ali. Vocês talvez não queiram acreditar, mas, sorriam. Estavam felizes e, talvez até mais que eu...

domingo, 21 de abril de 2013

Somos Mammuth



Há dois lados para tudo nessa vida e dois lados apenas. Poucos arriscam contradizer a eterna máxima do sim e do não, mas, cá estou eu, afirmando, ou melhor, fofocando a verdade alheia que, entre duas sugestões opostas existe uma verdade torta e fantástica que, vale a pena.

Mammuth é um filme de 2010 e, informação mais irrelevante que eu poderia apresentar, pois, Mammuth é um filme atemporal, que funciona em qualquer momento, desde que no momento certo. Do tipo que ocupa sessão particularmente específica nas vídeo-locadoras.

“Filmes para a hora certa” – Por isso a elucubração do início, para a terceira verdade de uma coisa qualquer. Costumam garantir que o mundo é 50%, mas, não no cinema. Mammuth, é o que tento lhes dizer, não é filme bom tal qual não é filme ruim, em absoluto. É outra coisa!

Filme que te toca no abismo mais profundo da alma, ou que embala o sono nos primeiros dez minutos. E não se trata de esforço, a obra de Gustave de Kervern e Benoît Delépine é crua e insípida aos olhos desatentos, tão leve que só os sufocados se agonizam com Serge Pilardosse.

Porque sentem-se da mesma forma errantes, diante do sistema imparável da vida. A vida simplesmente não para e as merdas passadas nos seguem aonde quer que estejamos. Tentando nos mostrar que o futuro é o mais puro e incontestável resultado do passado.

Mas seguimos adiante, assumindo que nossos erros estarão sempre nos assombrando os sonhos, mas, nem por isso, nos privando de seguir a vida. Errando e acertando com a mesma inocência adolescente de sempre. Todos os dias, como se fosse a primeira vez.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

A Ressaca das Férias



Acho curioso como funciona a cabeça da gente. Não digo interessante, acho mesmo é curioso. Porque me causa uma sincera interrogação quando penso a respeito. A respeito das férias! Sim, objeto de desejo do proletário preguiçoso, que não tem no emprego a grande motivação.

Minha motivação são as férias! Não quero fama ou fortuna, só férias. O esgotamento físico e mental ao longo do ano para quinze ou vinte dias de paraíso. Nada com o que se preocupar e algum trocado garantido para comer, beber e se esbaldar, bem longe daqui. Que mais da vida?

Mas o curioso (é onde quero chegar) é como estamos presos ao ofício do dia-a-dia como se as pernas ou os braços de uma organização qualquer. Levamos três, cinco e até sete dias para desligar-se completamente das responsabilidades que já não são mais nossas, nesse período.

São férias, meu bom Deus! A bonanza após a tempestade, e queimamos metade desse curto tempo com a cabeça a dez mil quilômetros de distância. Não é capricho meu, sei. Mas o que me atormenta, na verdade, vem depois, depois da turbulenta desconexão com o trabalho.

Aí é paraíso! Como se de férias escolares após cumprir o ano letivo. E natal que se aproxima. A sensação de liberdade e renovação é plena. Como se o mundo aos pés e nem um problema capaz de derrubar. Como se a mente vazia de preocupações. E só por uma semana.

Porque em seguida acaba. A rotina retoma, os estresses e problemas estúpidos e irresolvíveis de todo dia. Você respira fundo e se despede do paraíso. Sem jat leg, sem fuso horário. Em apenas trinta minutos tudo está como era e, férias, só daqui a um ano e sete dias. Fazer o quê?

terça-feira, 9 de abril de 2013

Rejuvenesço



É uma fuga. E cada um com a sua. Mas toda fuga acaba, invariavelmente, na marginalidade do vício. Sou viciado! Um álibi destilado (e refrescante se na mistura certa). Viciado em fugir, essa é a síntese da coisa! E nenhum vício do corpo é maior que a fuga na qual ele se projeta.

Eu bebo! Tudo o que estiver à minha frente. Com a consciência da fraqueza intelectual e física de um futuro não muito distante. E bebo por esse futuro, que está tão à minha frente quanto em outra dimensão. Futuro é tudo aquilo que está fora do alcance das minhas mãos, sedentas.

Por segurança. E por respostas. Pela garantia de dias menos turbulentos. Dias que nunca existirão, a não ser que entorpecido. Pois a visão torpe, anuviada e distorcida, é o que mantém meus olhos em riste. Curioso pelo palmo a frente, turvo. Do contrário, na inesgotável crise.

Existencial. Cinco dias por semana. Quatro, se muito latente. E quase sempre latente. Sobriedade e crise são parceiras inseparáveis da minha queixa! E tenho força nenhuma para afogar essa insuportável agonia se não no brinde. E aí então rimos juntos, na terceira dose.

Sinto-me um adolescente (talvez seja isso), cercado de problemas adultos. Não muito maiores que meus antigos problemas juvenis, mas, gigantescos à minha maturidade. Sofro da patética síndrome de Peter Pan, preso a uma Terra do Nunca dentro de mim. Prisioneiro e carcereiro.

Culpado e vítima. Por isso bebo, afim de descobrir, no meio dessa turbulenta dualidade, quem sou eu, afinal. Vítima de mim, frouxo. Ou culpado dos meus próprios dilemas, sádico. Frágil demais para enfrentar, preguiçoso demais para superar. Empurro a vida e entorno o copo.

Sonolento e resmungão. Pré-adolescente. Fingindo ser forte o suficiente para o que me espera depois do beliscão no braço. No choro da noite, bebo mais. Encolho os membros, tremo-me todo, vomito três anos para fora e volto a ser criança. Choro por nada, amo quase tudo.

Dobro a esquina do bom-senso, bebo mais. E bebo ainda mais. Retrocedendo cada passo ao adiante. Perco a firmeza nas pernas e caio de quatro. Engatinho e balbucio coisas indecifráveis. Rio e choro na mesma sentença. Bebo ainda mais. Sou outra coisa que não eu. Estou leve!

Relaxo o esfíncter, falta-me a fralda. Rio gostosamente. Riem comigo, de mim, é claro. Não me importo... Tenho nenhum problema às costas e a vida pela frente. Recém-nascido! Bebo mais, mamo na fonte da juventude. Bocejo e, finalmente, durmo, o inocente sono dos anjos...