É uma fuga. E
cada um com a sua. Mas toda fuga acaba, invariavelmente, na marginalidade do
vício. Sou viciado! Um álibi destilado (e refrescante se na mistura certa).
Viciado em fugir, essa é a síntese da coisa! E nenhum vício do corpo é maior
que a fuga na qual ele se projeta.
Eu bebo! Tudo
o que estiver à minha frente. Com a consciência da fraqueza intelectual e
física de um futuro não muito distante. E bebo por esse futuro, que está tão à
minha frente quanto em outra dimensão. Futuro é tudo aquilo que está fora do
alcance das minhas mãos, sedentas.
Por segurança.
E por respostas. Pela garantia de dias menos turbulentos. Dias que nunca
existirão, a não ser que entorpecido. Pois a visão torpe, anuviada e
distorcida, é o que mantém meus olhos em riste. Curioso pelo palmo a frente,
turvo. Do contrário, na inesgotável crise.
Existencial.
Cinco dias por semana. Quatro, se muito latente. E quase sempre latente. Sobriedade
e crise são parceiras inseparáveis da minha queixa! E tenho força nenhuma para afogar
essa insuportável agonia se não no brinde. E aí então rimos juntos, na terceira
dose.
Sinto-me um
adolescente (talvez seja isso), cercado de problemas adultos. Não muito maiores
que meus antigos problemas juvenis, mas, gigantescos à minha maturidade. Sofro
da patética síndrome de Peter Pan, preso a uma Terra do Nunca dentro de mim.
Prisioneiro e carcereiro.
Culpado e
vítima. Por isso bebo, afim de descobrir, no meio dessa turbulenta dualidade,
quem sou eu, afinal. Vítima de mim, frouxo. Ou culpado dos meus próprios
dilemas, sádico. Frágil demais para enfrentar, preguiçoso demais para superar. Empurro
a vida e entorno o copo.
Sonolento e
resmungão. Pré-adolescente. Fingindo ser forte o suficiente para o que me
espera depois do beliscão no braço. No choro da noite, bebo mais. Encolho os
membros, tremo-me todo, vomito três anos para fora e volto a ser criança. Choro
por nada, amo quase tudo.
Dobro a
esquina do bom-senso, bebo mais. E bebo ainda mais. Retrocedendo cada passo ao
adiante. Perco a firmeza nas pernas e caio de quatro. Engatinho e balbucio
coisas indecifráveis. Rio e choro na mesma sentença. Bebo ainda mais. Sou outra
coisa que não eu. Estou leve!
Relaxo o
esfíncter, falta-me a fralda. Rio gostosamente. Riem comigo, de mim, é claro.
Não me importo... Tenho nenhum problema às costas e a vida pela frente. Recém-nascido!
Bebo mais, mamo na fonte da juventude. Bocejo e, finalmente, durmo, o inocente sono
dos anjos...
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