terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Pensamento


                                             Auguste Rodin, pensando

Pensamento passa, ele vence. Expira, se me faço mais claro! Tenho aqui em minhas mãos, uma porção de textos encostados. Prontos e intocados. Perdidos para sempre no tempo que já foi. É que já não representam o que penso ou, pior ainda, sequer um dia representaram!

Apenas alguns pensamentos fugazes de uma madrugada insólita. Passado. Álcool no corpo e dedo no gatilho. Sentido figurado: Bum! Mil ideias dissecadas, maceradas e dilaceradas. Mas que me levam a lugar nenhum! Lugar comum. Terra dos médios. Adolescente bobo, crisiático.

É como me sinto se releio. Antes de despachá-lo ao vento, mais rápido e alto que a auto repressão de mim. O pensamento voa, se não passa. Alimenta pensamento e revoa. Alimenta mais e, depois, ainda mais! Pensamento não para, quando livre. Pensamento qualquer...

Você pensa, penso eu. E onde é que eles se meteram se não lá na gaveta, ao lado dos pensamentos meus. Esquecidos, como nós seremos um dia. Por ter deixado morrer alguma ideia antes mesmo dela nascer. Digo o que penso: Penso com receio. Sujeitinho minúsculo.

Penso no que vão pensar sobre aquilo que pensei. Penso e escrevo. Torno a pensar: Envio? – Envio! Senão passa. Posto esse post hoje, pois sei que, se amanhã, já passou! Um livro em branco é o que tenho a oferecer. Porque penso demais na insignificância das consequências.

Me acompanha? Não, não ofereço, pergunto: Está me acompanhando? Pensar é meio caminho, caros. A metade do caminho! E uma vez cinquenta por centro, alto lá! Que daí pra frente é atitude. Atire-se adiante que o mundo te segue. Parado, o pensamento passa.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

As Aventuras (Piratas) de Pi



O filme que mais me intrigou nos últimos tempos! Isso eu descobri logo. Mas quando tive o primeiro contato, numa resenha de revista, tive a certeza que não era um filme para mim. Nem terminei a matéria. Uns dias depois meu pai se mostrou interessado e perguntou a respeito.

Não pude ajuda-lo, já que ignorei a obra completamente. Estava decidido que “As Aventuras de Pi” não seriam aventuras minhas. Porém, em pouco tempo (e Facebook está lá para isso), começaram os comentários positivos sobre o filme que eu estava certo de ser pura insosses.

Sinestésico e lírico demais. Uma overdose de efeitos especiais magníficos que serviriam apenas para promover alguma tecnologia determinante ao futuro do cinema. Uma ode às exibições 3D, provavelmente. Como é que tanta gente diferente poderia se encantar com aquilo?

Levei um tempo para aceitar minha obrigação com o menino Pi e precisei de algum encorajamento mais vigoroso dos que confio na sétima arte e que, também se ofereceram a Ang Lee. Cineasta que, confesso, abandonei no limbo por pura divergência conceitual.

Digo, preconceito mesmo! Assisti ao “O Tigre e o Dragão” há mil anos e nem arrisquei seu “Hulk”, depois disso. E ainda deixei passar “Brokeback” (pois é) que imagino ser sua redenção! Pi surgia carregado do mesmo preconceito estúpido, entretanto, após tanta exaltação, topei!

Seria no compromisso semanal de cinema, proposto anteriormente, só que, devido algumas adversidades, teve de ser em casa, escusamente pirateado da internet. Uma vergonha que admito aqui, porém, punido por um download dublado e por outro gravado direto do cinema.

Não arrisquei um terceiro download porque achei justa a baixa qualidade, já que clandestino! Perdi toda a beleza estética para poder focar exclusivamente na história. Primorosa, aliás. Não à toa tanto êxtase aos que puderam contemplar na telona uma das mais belas fábulas.

E eis aí o motivo do texto (e eu já sentia cheiro disso quando aceitei assistir): O filme, em trailers e resenhas e sinopses oficiais, falha por evidenciar apenas a inovação high tech da coisa. Tem uma história muito mais deslumbrante por trás dos efeitos, ou melhor, à frente!

“As Aventuras de Pi” está, tranquilamente, entre os melhores filmes de fantasia já feito. Sei que digo isso ainda de prateleira vazia, mas, por outro lado, seguro de não estar equivocado! E se cabe uma dica: assista logo! Só que dica melhor: Veja no cinema que pirateado é fria!

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Um Filme Ruim de Vez em Quando


Às vezes é bom, para dar uma variada, assistir a um filme ruim no cinema. Antes eu achava que não, que o tempo era muito precioso e que meu intelecto merecia mais! Que bobagem! Filme ruim é exercício mais estimulante que as elucubrações óbvias de uma obra prima.

Faz bem, para a preguiça que paira, o esforço em entender “onde diabos o diretor pretendia chegar”. E praticar o senso crítico, de vez em quando. Mas cinema, sempre na telona! Não se arrisque a um filme ruim no conforto da TV que o controle está logo ali. Dedicação absoluta!

Estive há pouco no cinema. “Paris-Manhattan”, exemplo perfeito de um ótimo filme ruim. Ótimo porque uma pena, a premissa era boa: Uma mulher obcecada pela sétima arte e, especialmente, por Woody Allen. Solteirona convicta, família disfuncional e par antipríncipe.

O mote principal é a família tentando arrumar um marido para a protagonista enquanto ela escuta, no silêncio do seu quarto, conselhos em off, extraídos dos filmes do Woody Allen, narrados pelo próprio. Podia funcionar, se não esbarrasse em tanta falta de dinamismo.

Comédia romântica. O anticinema do bom cinema. Difícil tirar boa coisa daí! Comédia romântica francesa. Acho que não dá... Francês é muito bom no romance, é muito bom na comédia, só que talvez não tenha aprendido a misturar as coisas ainda. Por isso, que pena!

Saí da sala frustrado. Eu, e quem estava comigo. Tentando descobrir a razão dos personagens secundários (alguns, tão misteriosos, que surgiram e desapareceram da mesma forma) e, acima de tudo, tentando entender como foi que Woody Allen topou participar dessa salada!

A diretora, Sophie Lellouche, não tem nenhuma expressividade na área já que debutou com "Paris-Manhatan". O oposto poderia justificar o interesse de Woody. O próprio Woody não tem nenhuma participação na produção do filme. Talvez uma simples homenagem ao artista.

Mal sucedida e destemperada. O tipo de filme que acabará eliminado da minha memória. Mas indispensável no hall dos bons filmes ruins. Aqueles que poderiam ter chegado lá, se não tropeçassem nalgum lugar entre as letras do roteirista, a lente do diretor e os cortes do editor.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Eu aposto!



Dedicado ao Sr. Tasca que, excepcionalmente nessa noite, não pôde comparecer!

Não pela certeza da vitória, mas, pelo prazer do desafio! É claro que não um prazer efêmero que evapora no instante da oferta, então, aposto também pela vitória, e quem não? Mas repito, não pela certeza, aliás, exatamente, pela incerteza dela! É essa insegurança que coça!

Tremo os lábios e perco o olhar nos cantos vagos da sala, faço de tudo para dissimular a total falta de confiança nas cartas da mão (já que nada na manga), e imputo nas fichas a absoluta responsabilidade de convencer os oponentes que não estarão à minha altura nessa rodada.

A verdade é que tenho um problema com jogos. E nenhuma vergonha na cara! Escrevo displicentemente na testa: “Tenho um sério problema com jogos!” – Mas nada grave, apenas os adoro na mesma proporção que detesto perder. E tenho uma explicação bem mais serena:

A derrota me causa um certo desconforto, sabe? No ego! E é só isso! Não é que eu não saiba perder, pelo contrário, tenho o maior respeito! Só não tolero gozação quando meu orgulho é violentamente ferido pelo fracasso! Se perdi, fica na sua ou te corto a jugular nos dentes, ok?

Um sentimento comum. Nada com o que se preocupar, estou certo? Ou somos todos nobres competidores que reconhecem e aplaudem, fora do pódio, os vencedores? Balela! Contra esses nem quero jogar! Vitória boa é aquela que escancara a derrota no rosto do perdedor!

Sem gozação! Jamais! O orgulho próprio se encarregará de maltratar o perdedor na medida certa! Por isso me lembro, já com alguma nostalgia, de um tempo onde a jogatina era sagrada. Com local e hora marcada, religiosamente. Pôquer de quarta. Álcool, petiscos e toda a leveza!

Além das apostas! Nada mais que um bando de perdedores tentando arrancar dez ou quinze reais dos amigos. Um preço simbólico, claro, mas o capital mais bem investido do ano passado, afirmo convicto! Só que o tempo passa, as coisas mudam e tomam outras direções.

Sobra só a memória e, involuntariamente, uma vontade absurda de rir. Fica no ar a possibilidade da retomada. Outro dia, outro lugar, quando der. E até que seja, meto a cartola na cabeça, decepo o vinho e ofereço a torre de fichas. Quando quiserem, parceiros, sou All In!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

O Fim



Eu odeio a literatura! Odeio os romances e todas as obras de ficção! Todos os livros e as livrarias, com suas seções infinitas. Sim, não titubeio, odeio!  Esse apanhado de frases de efeito, com suas histórias coesas e seus personagens cheios de carisma e personalidade.

Detesto a literatura bem feita, só essa! Que para a ruim tenho mais preguiça que desprezo! A boa é a que me prende. Que me vidra na combinação das letras e sentenças arrebatadoras. Às vezes, até cansativas no início, mas, capricho dos bons, vão alimentando o íntimo aos poucos.

Até que me vencem. Dominam-me mais que derrotam e me têm completamente nas mãos nas páginas seguintes! Bukowski, Hemingway, Garcia Marquez, Borges, Huxley, Machado, Palahniuk e agora Kundera. Odeio vocês, meus bons amigos! E gostaria que soubessem!

Vocês fodem a minha vida, parceiros! Enchem-me de sentimentos e expectativas e, de repente, me dão as três piores letras que um ser humano pode ter, sem pedir licença. Vocês e mais um monte de vocês, mas, sou nobre e poupo o resto do monte! Hoje, culpo só vocês!

Porque isso não se faz! Não, não! Pelo menos não com aqueles que te respeitam (e os “aqueles” do caso, aliás e obviamente, sou eu!)! Não se entrega o mundo a uma pessoa se for para, em seguida, dar a ele um irreversível fim. Estou órfão e conto para que se envergonhem!

Por isso explico o ódio, que facilita para todo mundo: Venho odiando vocês há quase quinze anos. Lá dos idos de Dom Casmurro. Mas anteontem, no cabalístico dia primeiro do primeiro mês do novo ano, dei fim à história de Tomas e Tereza, Sabina e Franz. E, meu Deus Kundera!

O que foi que você fez, seu tcheco dos infernos? Porque foi que colocou Karenin na minha vida? Que faço agora que desaprumado? Abriu-se um buraco muito grande no cotidiano da minha cama (a religião da leitura), já que me senti muito íntimo de Tomas e companhia.

Especialmente de Tomas que, segredo confesso, um eu com a pompa da eternidade literária. Ou, valendo-me da modéstia e da cronologia, um eu primário que se camuflou nas prateleiras para se apresentar no mesmo instante que a vida imparável fizesse de mim Tomas tupiniquim.

Eu disse modesto, não? Sim, pois não me orgulho. Tomas apenas na lascívia. Menos ideológico, pouco do caráter. E Karenin, então? Karenin é covardia! Teresa e ela arrancaram de mim as lágrimas mais sinceras que a literatura foi capaz de fazer no mundo até o dia de hoje.

Por isso odeio a literatura! Vulnerável. E você está na minha lista, Kundera, pode apostar! Na lista negra dos belos malditos! Teu talento é minha busca. Meu ódio é resultado da inveja, odeio-o (odeio-os) porque não o alcanço, mas, calma lá! Segura aí que o ano tá só começando!