Eu odeio a literatura! Odeio
os romances e todas as obras de ficção! Todos os livros e as livrarias, com
suas seções infinitas. Sim, não titubeio, odeio! Esse apanhado de frases de efeito, com suas
histórias coesas e seus personagens cheios de carisma e personalidade.
Detesto a literatura bem
feita, só essa! Que para a ruim tenho mais preguiça que desprezo! A boa é a que
me prende. Que me vidra na combinação das letras e sentenças arrebatadoras. Às
vezes, até cansativas no início, mas, capricho dos bons, vão alimentando o
íntimo aos poucos.
Até que me vencem. Dominam-me
mais que derrotam e me têm completamente nas mãos nas páginas seguintes! Bukowski,
Hemingway, Garcia Marquez, Borges, Huxley, Machado, Palahniuk e agora Kundera.
Odeio vocês, meus bons amigos! E gostaria que soubessem!
Vocês fodem a minha vida,
parceiros! Enchem-me de sentimentos e expectativas e, de repente, me dão as
três piores letras que um ser humano pode ter, sem pedir licença. Vocês e mais
um monte de vocês, mas, sou nobre e poupo o resto do monte! Hoje, culpo só
vocês!
Porque isso não se faz! Não,
não! Pelo menos não com aqueles que te respeitam (e os “aqueles” do caso, aliás
e obviamente, sou eu!)! Não se entrega o mundo a uma pessoa se for para, em
seguida, dar a ele um irreversível fim. Estou órfão e conto para que se
envergonhem!
Por isso explico o ódio, que
facilita para todo mundo: Venho odiando vocês há quase quinze anos. Lá dos idos
de Dom Casmurro. Mas anteontem, no cabalístico dia primeiro do primeiro mês do
novo ano, dei fim à história de Tomas e Tereza, Sabina e Franz. E, meu Deus
Kundera!
O que foi que você fez, seu
tcheco dos infernos? Porque foi que colocou Karenin na minha vida? Que faço
agora que desaprumado? Abriu-se um buraco muito grande no cotidiano da minha
cama (a religião da leitura), já que me senti muito íntimo de Tomas e
companhia.
Especialmente de Tomas que,
segredo confesso, um eu com a pompa da eternidade literária. Ou, valendo-me da
modéstia e da cronologia, um eu primário que se camuflou nas prateleiras para
se apresentar no mesmo instante que a vida imparável fizesse de mim Tomas
tupiniquim.
Eu disse modesto, não? Sim,
pois não me orgulho. Tomas apenas na lascívia. Menos ideológico, pouco do
caráter. E Karenin, então? Karenin é covardia! Teresa e ela arrancaram de mim as
lágrimas mais sinceras que a literatura foi capaz de fazer no mundo até o dia
de hoje.
Por isso odeio a literatura! Vulnerável.
E você está na minha lista, Kundera, pode apostar! Na lista negra dos belos
malditos! Teu talento é minha busca. Meu ódio é resultado da inveja, odeio-o
(odeio-os) porque não o alcanço, mas, calma lá! Segura aí que o ano tá só
começando!
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