Às vezes é bom, para dar uma
variada, assistir a um filme ruim no cinema. Antes eu achava que não, que o
tempo era muito precioso e que meu intelecto merecia mais! Que bobagem! Filme
ruim é exercício mais estimulante que as elucubrações óbvias de uma obra prima.
Faz bem, para a preguiça que
paira, o esforço em entender “onde diabos o diretor pretendia chegar”. E praticar
o senso crítico, de vez em quando. Mas cinema, sempre na telona! Não se arrisque
a um filme ruim no conforto da TV que o controle está logo ali. Dedicação
absoluta!
Estive há pouco no cinema. “Paris-Manhattan”,
exemplo perfeito de um ótimo filme ruim. Ótimo porque uma pena, a premissa era
boa: Uma mulher obcecada pela sétima arte e, especialmente, por Woody Allen.
Solteirona convicta, família disfuncional e par antipríncipe.
O mote principal é a família
tentando arrumar um marido para a protagonista enquanto ela escuta, no silêncio
do seu quarto, conselhos em off, extraídos dos filmes do Woody Allen, narrados
pelo próprio. Podia funcionar, se não esbarrasse em tanta falta de dinamismo.
Comédia romântica. O anticinema
do bom cinema. Difícil tirar boa coisa daí! Comédia romântica francesa. Acho que
não dá... Francês é muito bom no romance, é muito bom na comédia, só que talvez
não tenha aprendido a misturar as coisas ainda. Por isso, que pena!
Saí da sala frustrado. Eu, e
quem estava comigo. Tentando descobrir a razão dos personagens secundários
(alguns, tão misteriosos, que surgiram e desapareceram da mesma forma) e, acima
de tudo, tentando entender como foi que Woody Allen topou participar dessa
salada!
A diretora, Sophie Lellouche, não tem nenhuma expressividade na área já que debutou com "Paris-Manhatan". O oposto poderia justificar o interesse
de Woody. O próprio Woody não tem nenhuma
participação na produção do filme. Talvez uma simples homenagem ao artista.
Mal sucedida e destemperada. O
tipo de filme que acabará eliminado da minha memória. Mas indispensável no hall
dos bons filmes ruins. Aqueles que poderiam ter chegado lá, se não tropeçassem
nalgum lugar entre as letras do roteirista, a lente do diretor e os cortes do
editor.
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