domingo, 22 de junho de 2014

Messias



Na superfície longínqua do mar sem ondas, emergem sete bolhas, perfeitamente cilíndricas e oxigenadas. Estouram em seguida, com respeitável vigor, diluindo-se anônimas na atmosfera. Essas pequenas esferas de ar jamais encontrarão, por conta própria, um novo par de pulmões.

Como quando tentamos, falidamente, preencher, por absoluta e bem intencionada prepotência, os pulmões murchos dos menos afortunados. Julgando-os incapazes. Não desinteressados, mas, incapazes. De condições melhores de vida. E cidadania. Julgando-os, afinal, menos afortunados.

Muitas vezes, ao longo da vida, misturamos o conhecimento teórico à completa falta de bom senso e metemos o bedelho na vida alheia, escoltados por um pedaço de papel timbrado, na expectativa de salvar o mundo! Como se ele estivesse, justamente, à nossa profética espera.

É de conhecimento geral que o mundo, vem dando suas indiferentes voltas desde que, homônimamente, é mundo. E muito antes do sujeito ter a epifania messiânica sobre as mazelas terrenas, ele já não dava a mínima. E tentou alertar, mais de uma vez! Mas todo herói é teimoso!

Com sorte, essas inúteis investidas trazem de volta não mais que algumas escoriações, físicas ou morais. Noutras, menos tolerantes, torna-o pauta de caderno policial que, pragmático ou lírico (dependendo da relevância em cifras), resume seu empenho em: “Morreu tentando!”.

Enquanto isso, Nathan, que era pós-doc em conflitos urbanos e transbordava disposição para mudar o mundo, desapareceu, nalgum beco da baixada santista. E jamais o encontrarão, pois, extinguiu-se, há pouco, em sete bolhas, perfeitamente cilíndricas e oxigenadas.

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