Chegou a mim com a despreocupada
pompa dos que não se importam - ou fingem - estar acima das carências de
atenção daqueles que, na nossa idade, querem quase nada que não, só isso. Apresentou-se
amigavelmente: “Carlos Francisco, mas, me chama de Carlão!” – Assim o chamei.
E rebati: “Carlos Francisco,
mas me chamam de Chico...” – O nome, sim, era tão o mesmo quanto todo o resto.
Exatamente! Carlos Francisco, o outro, tinha a minha cara em cópia, como todo o
resto, na fisionomia. Acabamos amigos, porque, afinal, era impossível não ser
amigo do Carlão!
Sujeito boa praça, polido,
querido. Pensava comigo que, a bizarra versão melhorada de mim. Conversávamos
muito e, sem que eu percebesse, estudava meus jeitos, meus métodos e hábitos.
Apresentei-o à minha vida e, as pessoas, claro, adoraram-no irresistivelmente.
Não levou tempo algum até que
eu, Chico, me convertesse a coadjuvante naquela dupla gêmea. Apócrifo do meu próprio
círculo social. Carlão estava em todas. Indiquei-o a assistente na minha
repartição e logo assumiu meu posto, consolidando o anonimato que já me era
habitual.
Da mesma forma, arrebatou minha
maravilhosa vizinha, paixão antiga que, francamente, nunca me deu bola. Até meus
pais (PAIS!), estimavam o Carlão como o filho que nunca tiveram. Com tudo isso,
toda a minha mediocridade escancarada, decidi, complacente que era a hora de
partir.
Éramos tão próximos e iguais,
que apenas deixei-o a cargo dos meus compromissos. Carlão imediata e
primorosamente assumiu minha identidade de forma que ninguém deu falta da
inutilidade minha. Ele mesmo, solicito que só, indicou meu destino, até o fim
dos dias.
Tratava-se de uma espelunca, a
muitas milhas de qualquer lugar, onde os hóspedes eram todos a versão errada de
si. O ambiente parecia hostil no início, mas, eventualmente na televisão, o “outreu”
de algum deles dava as caras, bem sucedido. E nesses dias, em festa, vibravámos todos!
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