O Juca era um cara simples,
desses que a gente chama de simples para não chamar de chucro. Juca era chucro,
e essa era a verdade. Ele tinha uma quitanda humilde, em um bairro nobre, que
recebia todo o tipo de gente. Era um cara simpático, apesar de discreto. E eu
gostava disso nele.
Num dia desses, um dia
qualquer, um casal à beira da terceira idade, discutia as injustiças do mundo
quanto a noção de maturidade entre os gêneros. Estavam bem à minha frente, entre
Juca e eu, escolhendo suas frutas e legumes e, divagando suas aflições a quem
quizesse ouvir.
Era inevitável ouvir, ela
dizia: “Acho ultrajante que envelheçamos, enquanto vocês, amadurecem! O mundo
trata de nos empurrar à cova e ascendê-lo à sabedoria!~ - Creio que quem a
ouviu, compactuou do desabafo. O patriarqusimo do mundo é triste e incontestável.
Mas o homem, prontamente,
replicou empunhando uma tenra manga: ~A meu ver, tratamos os gêneros de forma
diferente. Enquanto vocês são frutas, que logo atingem sua deslumbrante e
suculenta maturidade, somos como garrafas de vinho, desprezadas até que se
envelheça ~.
Nos entreolhamos envolvidos
pelo diálogo. Juca, ao contrário, fazia seu trabalho de indicar e pesar os
itens aos clientes. “Mas eu quero ser vinho, mereço ser vinho, não acha?” – “Acho!
Acho sim, mas o mundo é o mais cruel dos articuladores. Talvez nossa netinha dê
sorte...”.
Ela concordou decepcionada e,
todos nós, nos decepcionamos um pouco. Juca não, manteve-se sereno. Na minha
vez, apontei um cacho de uvas e ele, com sua indefectível discrição, provocou-me:
“Sabe, o sujeito estava certo, homens são como garrafas de vinho e mulheres
como frutas!”.
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