Tobias era um cara simples,
desses que são sinceros por pura inocência. Costumavam pensar que Tobias tirara
a sorte grande em um concurso público, pois, batia ponto no Banco do Povo. Só não sabiam que Tobias tinha um sonho e que,
apodrecer num cargo estúpido, era sua punição.
Arquivista! Tobias era o arquivista
da unidade em que trabalhava. O único arquivista de uma pequena agência na
região periférica. Um cargo que exigia pouco e pagava para que ficasse sozinho a
maior parte do tempo, como gostava. Tobias era simples, com um sonho apenas.
E já tinha, pelo menos, dez
anos que Tobias metia-se por oito horas ininterruptas nos fundos daquela
pequena agência, todos os dias de sua vida (exceto os dias santos), buscando
apenas solidão. Nesse tempo descobrira que, solidão demais atrai atenção, e
prezava pelo anonimato.
Por isso, todo ano, no fim do
ano, os funcionários da agência organizavam uma típica confraternização que, a
Tobias, parecia nada mais que um sádico ritual, necessário para determinar
a paz ao longo do ano seguinte. Portanto, ali, socializa com seus colegas!
Uma vez por ano e só. Cerveja,
amigo secreto, karaokê e toda a algazarra prevista para uma festa de fim de
ano. Tudo o que abominava. “Como se o ano que vem estivesse a milhas de
distância e como se fôssemos esquecer toda a merda dita aqui amanhã!” – Ele pensava.
Mas sorria e acenava
positivamente. Definitivamente não entendia o ser humano. Toda vez, no alto
álcool da festa, alguém o chamava para proclamar seu sonho. Enfaticamente
dizia: “Queria ser ator pornô!” – “E o que te falta?” – Replicavam – “Cerca de
sete centímetros” – Treplicava.
As pessoas riam. Quem o conhecia e quem não. E garantiam, todos, entre aplausos e acenos positivos, que Tobias era gente boa! Tobias, atônito, contribuía com um sorriso incrédulo, capaz de dissimular as lágrimas de uma imensidão inatingível, de apenas sete centímetros...
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