É desesperador, mas, constato:
está ficando tarde. Lá fora escureceu e, aqui dentro, também. Uma luz turva e
fraca é o que me resta e não serve. Já não consigo ver e creio que a cegueira natal
teria sido menos cruel, pois, olhos sadios no breu, são nada mais que falsa esperança!
E para quê diabos me servem as
falsas esperanças já que, até mesmo as esperanças verdadeiras são perigosas? E
que tremenda violência conviver com a memória dos dias claros. Os detalhes e a
clareza do sol batendo na alma. A nitidez da auto-estima. Tão alta! As palavras
que fluiam...
Hoje não. Olhos cerrados e
veias saltadas em um esforço feio e medíocre para encontrar um qualquer enredo
que mantenha os olhos iluminados. Agora é tarde, caros amigos. Está escuro e
não há mais nada que possa ser feito. Talvez amanhã. Quando amanhecer amanhã,
talvez...
Por enquanto noite! Uma longa
e interminável noite. Fria e sem lua. Suaves tropeços e pequenos passos
rastejantes no escuro me mantêm vivo. Mas não muito. De todos os sentidos, o
que mais faz falta é o que me falta. Nenhum dos cinco perceptivos, mas, aquele
etimológico e original.
Porém, reforço que enxergo! Envolto
na completa ausência de luz, enxergo. Mesmo assim, é como se cego. Surdo, anósmico,
ageunésico e anestésico. É como se morto, companheiros, se isso facilita a compreensão!
Defino agora, do alto da minha derrota, que os dias claros se foram!
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