domingo, 23 de março de 2014

Anoiteceu Dentro


É desesperador, mas, constato: está ficando tarde. Lá fora escureceu e, aqui dentro, também. Uma luz turva e fraca é o que me resta e não serve. Já não consigo ver e creio que a cegueira natal teria sido menos cruel, pois, olhos sadios no breu, são nada mais que falsa esperança!

E para quê diabos me servem as falsas esperanças já que, até mesmo as esperanças verdadeiras são perigosas? E que tremenda violência conviver com a memória dos dias claros. Os detalhes e a clareza do sol batendo na alma. A nitidez da auto-estima. Tão alta! As palavras que fluiam...

Hoje não. Olhos cerrados e veias saltadas em um esforço feio e medíocre para encontrar um qualquer enredo que mantenha os olhos iluminados. Agora é tarde, caros amigos. Está escuro e não há mais nada que possa ser feito. Talvez amanhã. Quando amanhecer amanhã, talvez...

Por enquanto noite! Uma longa e interminável noite. Fria e sem lua. Suaves tropeços e pequenos passos rastejantes no escuro me mantêm vivo. Mas não muito. De todos os sentidos, o que mais faz falta é o que me falta. Nenhum dos cinco perceptivos, mas, aquele etimológico e original.

Porém, reforço que enxergo! Envolto na completa ausência de luz, enxergo. Mesmo assim, é como se cego. Surdo, anósmico, ageunésico e anestésico. É como se morto, companheiros, se isso facilita a compreensão! Defino agora, do alto da minha derrota, que os dias claros se foram!

Bons. Mas extintos. Até que, quem sabe um dia, amanheça...

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