domingo, 26 de janeiro de 2014

O Peso da Liberdade


Começou com meu marido. O tempo que durou entre o conselho e a insistência foi curto. Parecia realmente um problema: “Acho melhor, sei lá, você procurar um nutricionista!” – dizia ele, feito bom amigo. Eu podia sentir que a silhueta já não era a mesma. Por Deus, não sou cega!

Eu era capaz de perceber, na saída do banho, que minha juventude começava a se esvair pelos poros. Ele, aparentemente, não. A mim, parecia problema pouco. A ele, parecia problema! Pesquisou profissionais e convenceu minha família que era caso urgente e de saúde pública.

Eu estava gorda, ele dizia. Uma larga vida de sedentarismo e nada mais que dois filhos sem cesária. Era preciso tratar minha deformidade antes que fosse tarde. A barriga, as coxas e um tal de culote! Topei, pois, simplesmente amava aquele bastardo, parece que, mais do que a mim.

Meus pais e amigas me aconselharam a frequentar uma academia e dar um jeito de não perder o meu homem, que já não me procurava na cama, me fazendo ver a luz vermelha do nosso casamento piscar incessantemente. E as tais aulas de spinning eram terrivelmente chatas!

Quando, quase esgotada de tanta aeróbica inútil, fui a um especialista: “Você está acima do peso!” – “Acima? Acima do quê?” – “Do seu biotipo, oras!”- “Mas essa sou eu, sempre fui assim! O que dizem os exames?” – “Bom, parece que tudo vai bem, mas, precisa mudar a alimentação!”

Eu não precisava mudar a alimentação! A urgência era outra. Saí da consulta mais determinada que nunca e, em casa, cortei de pronto as sobras e perdí uns cem quilos maléficos: Marido, TV e padrões. Se me perguntam hoje, quanto peso, digo que o incomensurável peso da liberdade!

2 comentários:

Mariana Psi disse...

Excelente!Esse "peso" cortado não tem
Preço.

Mariana Psi disse...

Excelente!Esse "peso" cortado não tem
Preço.