Começou com meu marido. O
tempo que durou entre o conselho e a insistência foi curto. Parecia realmente
um problema: “Acho melhor, sei lá, você procurar um nutricionista!” – dizia ele,
feito bom amigo. Eu podia sentir que a silhueta já não era a mesma. Por Deus,
não sou cega!
Eu era capaz de perceber, na
saída do banho, que minha juventude começava a se esvair pelos poros. Ele,
aparentemente, não. A mim, parecia problema pouco. A ele, parecia problema! Pesquisou
profissionais e convenceu minha família que era caso urgente e de saúde
pública.
Eu estava gorda, ele dizia.
Uma larga vida de sedentarismo e nada mais que dois filhos sem cesária. Era
preciso tratar minha deformidade antes que fosse tarde. A barriga, as coxas e um
tal de culote! Topei, pois, simplesmente amava aquele bastardo, parece que,
mais do que a mim.
Meus pais e amigas me
aconselharam a frequentar uma academia e dar um jeito de não perder o meu
homem, que já não me procurava na cama, me fazendo ver a luz vermelha do nosso
casamento piscar incessantemente. E as tais aulas de spinning eram
terrivelmente chatas!
Quando, quase esgotada de
tanta aeróbica inútil, fui a um especialista: “Você está acima do peso!” – “Acima?
Acima do quê?” – “Do seu biotipo, oras!”- “Mas essa sou eu, sempre fui assim! O
que dizem os exames?” – “Bom, parece que tudo vai bem, mas, precisa mudar a
alimentação!”
Eu não precisava mudar a
alimentação! A urgência era outra. Saí da consulta mais determinada que nunca
e, em casa, cortei de pronto as sobras e perdí uns cem quilos maléficos: Marido,
TV e padrões. Se me perguntam hoje, quanto peso, digo que o incomensurável peso
da liberdade!
2 comentários:
Excelente!Esse "peso" cortado não tem
Preço.
Excelente!Esse "peso" cortado não tem
Preço.
Postar um comentário