quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Carniceiros


“Kellog, vem cá, meu filho! Traz para mim esse saco pequeno. Não! O preto, do outro lado. Isso, esse aí!” - O menino arrastou o pesado saco até ao alcance da mãe. – “Acho que tem coisa boa aqui, sinto o cheiro!” – De repente, estavam todos esperançosos e Gina rompeu o nó do plástico.

“Nada. Só lixo!” – Disse a moça, desconsolada com a falta de sorte. Philip Morris, seu marido, vinha lá de longe, por trás da pilha de entulho que se misturava à pilha de gente faminta e miserável. “Ei, moçada, encontrei salsicha na pilha lá de trás!” – Todos vibraram, esfomeados!

“Olha só Seara, é uma das suas!” – Disse Kellog à irmã, apontando para a lata amassada, suja de gordura e restos. Seara apontou orgulhosa para seu nome, estampado no almoço da família, e rebateu: “Faz tempo que um dos seus não nos alimenta, né, irmãozinho!” – Todos riram.

Ao longe, na pilha de gente e de lixo, uns se gabam de uma velha e enegrecida fatia de pizza, outros urram por um prato descartável, untado de pasta de maionese e uns grãos de farofa (sentem até o cheiro da carne). As crianças disputam, com as baratas, os potes de Danette.

Os que vencem a briga, herdam a alcunha do creme de chocolate, e recebem o respeito dos demais. É assim que se ganha um nome por aqui, como se fosse um título, como se valesse a propria honra nesse habitat hostil e esquecido pelos afortunados da mesma espécie.


Do alto da colina, observam horrorizados os urubus, esperando pelo resto da sobra dos que não têm escolha. Às vezes uma mísera migalha, noutras muitas vezes, um banquete de Kellog, ou Gina, ou Philip Morris ou Seara. Até mesmo os carniceiros estranham a inversão da ordem.

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