terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Negociando Por Peso


Surgiu da dispersão de uma súbita nuvem de fogo, na alta cadeira de metal cromado à minha frente, do lado de lá da mesa. No lado de cá, um par de assentos talhados diretamente do tronco de um jequitibá ainda novo. Não eram confortáveis, mas, certamente, muito elegantes.

“Bem-vindo, jovem senhor, em que posso ser útil?” – A pele excessivamente vermelha me causava a estranha impressão do sangue fervilhando nas veias, buscando uma maneira de sair de lá. Eu quase podia assistir, indiscretamente, os glóbulos afobados, correndo em mão única.

“Dinheiro!” – respondi pragmaticamente, tentando disfarçar meu estranhamento. “Sua primeira vez aqui, não?” – “Sim...” – Não hesitei, deduzindo que tentar enganar aquele cara não traria benefícios aos negócios. “E o senhor tem alguma ideia de como funciona nosso banco?”.

Eu não tinha nenhuma ideia de como funcionava aquele banco de uma só agência, na parte baixa do centro da cidade: “Não, não faço a menor ideia...” – “E o senhor precisa de dinheiro?” – Transpirava um suor escuro, que manchava a camisa branca de botões e a gravata vermelha.

Era um tanto grotesco, mas, eu não tinha escolha: “Sim! De muito!” – “Não se preocupe, temos de sobra! E como pretende pagar?” – “A prazo!” – Ele riu da minha piada involuntária. “Pois teremos prazer em conceder-lhe o empréstimo!” – E pirofajou num estalo o contrato.

“Uau, é uma alta quantia! Mas não entendi as condições...” – “O senhor paga quando morrer. E não se preocupe, terá uma vida longa e plena!” – “Mas e o preço? Gostei das condições, mas, sinceramente, não entendi o preço!” – “Nada mais que vinte e um gramas, senhor!”.

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