sábado, 23 de novembro de 2013

Vermes da Minha Vida


Tempos atrás, depois do banho, notei uma mancha, escura, estranha e brotada da noite para o dia no meio alto da minha bochecha direita. Era feio e muito feio, mas, até então, só feio. Percebi, após muito enxugar, que não sairia e, para preservar a vida social,  disfarcei com barba.

Funcionou por um tempo. Os pelos todos trataram de dissimular minha marca erijonhsoniana e preservaram o acolhimento que a noite me dava. A noite, sempre foi mais amiga e mãe que o dia. Até que um cheiro! Forte e fétido. Pútrido, na prática. Nem eu suportava lidar com aquilo.

As pessoas ainda me respeitavam, mas, não disfarçavam o nojo que era estar perto de mim. Lembrei daquela mancha e tirei toda a barba. Um buraco a havia substituído. Grande como uma boca. Colonizado por vermes, brancos e famintos. Determinados. Um deles olhou pra mim!

Me convenceu, com seus gordos filos, que o hospedeiro de toda aquela cena grotesca era eu. Que minha carne era mero combustível. Levou, ainda, muito tempo, até eu perceber que havia passado tempo demais. A cara já estava tomada por vermes e o corpo todo era um banquete.

De fronte ao espelho eu jazia, vivo e nu, vislumbrado com a atividade incessante dos meus pequenos parasitas. Havia beleza em assisti-los, proliferando-se e engordando às custas da minha ínfima vida. Eu morri, meus caros! E admitir isso é o ponto alto da minha existência!

Cedi mesmo. Porque julguei justiça maior na vida dos vermes que na minha. Havia propósito no que eles faziam e propósito nenhum no que eu fazia. Simples! Vida medíocre de escritório e supermercado não merece durar. Venero os vermes, tão belos e eficientes em me decompor.

Já não existo mais e não me importo, aliás, muito obrigado pela nefastia artística da despedida, vermes da minha vida.

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