Tempos atrás, depois do banho,
notei uma mancha, escura, estranha e brotada da noite para o dia no meio alto da
minha bochecha direita. Era feio e muito feio, mas, até então, só feio.
Percebi, após muito enxugar, que não sairia e, para preservar a vida social, disfarcei com barba.
Funcionou por um tempo. Os
pelos todos trataram de dissimular minha marca erijonhsoniana e preservaram o
acolhimento que a noite me dava. A noite, sempre foi mais amiga e mãe que o
dia. Até que um cheiro! Forte e fétido. Pútrido, na prática. Nem eu suportava lidar
com aquilo.
As pessoas ainda me
respeitavam, mas, não disfarçavam o nojo que era estar perto de mim. Lembrei daquela
mancha e tirei toda a barba. Um buraco a havia substituído. Grande como uma
boca. Colonizado por vermes, brancos e famintos. Determinados. Um deles olhou pra
mim!
Me convenceu, com seus gordos
filos, que o hospedeiro de toda aquela cena grotesca era eu. Que minha carne
era mero combustível. Levou, ainda, muito tempo, até eu perceber que havia
passado tempo demais. A cara já estava tomada por vermes e o corpo todo era um
banquete.
De fronte ao espelho eu jazia,
vivo e nu, vislumbrado com a atividade incessante dos meus pequenos parasitas.
Havia beleza em assisti-los, proliferando-se e engordando às custas da minha ínfima
vida. Eu morri, meus caros! E admitir isso é o ponto alto da minha existência!
Cedi mesmo. Porque julguei
justiça maior na vida dos vermes que na minha. Havia propósito no que eles
faziam e propósito nenhum no que eu fazia. Simples! Vida medíocre de escritório
e supermercado não merece durar. Venero os vermes, tão belos e eficientes em me
decompor.
Já não existo mais e não me
importo, aliás, muito obrigado pela nefastia artística da despedida, vermes da minha vida.
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