As vezes nos convencemos que
existe sim, nalgum ônibus lotado ou qualquer outro buraco imundo, a tal da alma
gêmea! A minha estava por aí dando sopa, e eu a encontrei. Acreditem! Não tem
muita gente disposta a sair na noite para não conhecer ninguém. Eu tenho. Ela
também!
Foi assim que aconteceu. Numa dessas
noites, ela se esparramava no balcão de um boteco barato que eu costumava
frequentar. Sozinho e sozinha. E bebia vodka com coca. Me aproximei com um copo
baixo molhado e raso de whisky ruim. Não disse nada, só me aproximei. Por
esporte, talvez.
Percebi que afastava todos os
caras que se apresentavam. Ora mostrava o dedo médio, ora mandava-os à merda.
Sempre decidida. Estava apenas tentando beber sua bebida sem conversa fiada.
Cutuquei-a com as costas da mão: - Moça? - Escuta otário, vê se me deixa em
paz, ok!?
- Foda-se! Sua bolsa tá no
chão... - Ah, obrigado! - Foda-se! - E ficamos curtindo o constrangimento
daquela situação mais um tempo, até que as bebidas acabaram. Ficamos encarando os copos vazios, de braços
cruzados, até que o garçom tratou de enchê-los.
Um whisky ruim dá, no copo, um
efeito mais bonito que um whisky bom. É mais turvo, mais denso e oleoso. Tão
artificial. Acho que é assim com tudo. O eterno esforço em ser aquilo que não
é. Refleti calado. Enquanto isso, ela tinha voltado a descartar seus pretendentes
bêbados e estúpidos.
Tinha nos olhos a exata
expressão do desprezo. Como se cauterizada, depois de mutilada por um grande e
verdadeiro amor. Até nossas cicatrizes pareciam sincronizadas. E estávamos ali,
tentando sacramentar a mesma busca pela
solidão. Era, definitivamente, minha alma gêmea!
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