domingo, 17 de novembro de 2013

A Densa Mata Baldia


Parece daninha, já que cresce irregular por todo o redor, espalhando a camuflagem que enegrece, vagarosa e precisamente, meu universo particular. Essa mata que protejo, dissimula um qualquer algo sombrio, já há muito escancarado nos traços mais óbvios do meu rosto.

Brota, imponente e irrefreável, do jardim da frente. Formando uma espessa barreira às trilhas projetadas a me guiar entre as flores. Não sou um entusiasta das flores. Não! Convalesço apenas por elas, coloridas e cheirosas e fincadas no chão, sujeitas ao abandono assassino do homem.

Por isso então, brota de mim a mata densa. Barreira, escudo e cerca. A negra mata do ostracismo e seus espinhos imaginários. O selvagem capim escuro que desconhece foice, enxada, rastelo e creme mentolado. Se espalha por cada poro e cada clareira, conquistando todo o território.

Vertiginosamente vertical. Dominando-me e abandonando-me de mim. Aí que reservo-me bicho. Ao arremesso dos restos, à presença dos ratos. Aos entulhos. Tenho cada vez mais, uma expectativa menor. Cresce o mato e vão-se as portas e portões. Ficam cobertas as janelas.

Até que só mato. E eu lá dentro, esquecido. Envolto nas grossas e rudes folhas de capim-preto (alguns albinos). Aí, enfim, baldio! Inculto, ou, analogamente, incultivado. Tão impenetrável que, em seguida, floresta! E finalmente não mais um insignificante terreno improdutivo.

Agora, propriedade ambiental! Patrimônio! Da humanidade! Sim, isso significa que de todos vocês! A improdução canonizada. A vida eterna que almejei com muito desleixo e falta de vontade. Enquanto penso, e desconverso, ouço o mato crescendo silenciosamente em mim.

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