quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Quando Miranda Amou


Nenhuma protuberância havia jamais surgido involuntariamente daquele corpo jovem e esguio. Até mesmo as espinhas, na época da adolescência, pediam licença antes de brotarem daninhas em seu rosto angelical. Miranda era paz, e felicidade absoluta, apesar de incompleta.

Pois lhe faltava o amor. Não que faltasse de fato, afinal, não o conhecia, mas, já sabia há muito (mesmo sem saber) que o retumbante e imparável eco no peito, era o vazio ruidoso causado unicamente pela falta de um amor. Miranda não fez alarde, ou excitou um músculo sequer.

Pelo total desconhecimento de causa, manteve cada molécula do corpo em estado de dormência, poupava suas energias para aquilo que sabia fazer, já que não gostava do esforço em vão. Diziam que não se encontra o amor, mas, é encontrado por ele. E ela confiava.

Confiava, com o coração e com a segurança da paz que lhe era habitual, que o amor, um dia, beijaria sua testa com suavidade, cessando finalmente o incômodo vazio de si. Enquanto isso tinha a saúde em dia. O buraco do peito não aparecia nos exames e, portanto, tudo bem.

Até que veio. Alto, viril, dominador. Homem. Disritmou seu compasso cardíaco, sufocou-lhe os pulmões e anuviou sua vista. Fez surgir em seus raios-x, uma imensa mancha branca. Clinicamente – diziam os médicos – tinha o tamanho exato do amor! E pediram-lhe repouso.

Mas Miranda estava em estado terminal: Sofria de amor crônico. Acabaria sucumbindo a qualquer momento e, justamente num momento qualquer, quando convidada ao cinema, explodiu, numa viscosa profusão de órgãos e vísceras e sangue, tornando o mundo mais belo.

Um comentário:

Unknown disse...

Os estados terminais que convivo são por desamor ou por nunca amar. Vazio infinito. Adorei a terminalidade de Miranda, explosão de vida!