Nenhuma protuberância havia
jamais surgido involuntariamente daquele corpo jovem e esguio. Até mesmo as
espinhas, na época da adolescência, pediam licença antes de brotarem daninhas em
seu rosto angelical. Miranda era paz, e felicidade absoluta, apesar de
incompleta.
Pois lhe faltava o amor. Não
que faltasse de fato, afinal, não o conhecia, mas, já sabia há muito (mesmo sem
saber) que o retumbante e imparável eco no peito, era o vazio ruidoso causado unicamente
pela falta de um amor. Miranda não fez alarde, ou excitou um músculo sequer.
Pelo total desconhecimento de
causa, manteve cada molécula do corpo em estado de dormência, poupava suas
energias para aquilo que sabia fazer, já que não gostava do esforço em vão. Diziam
que não se encontra o amor, mas, é encontrado por ele. E ela confiava.
Confiava, com o coração e com
a segurança da paz que lhe era habitual, que o amor, um dia, beijaria sua testa
com suavidade, cessando finalmente o incômodo vazio de si. Enquanto isso tinha a
saúde em dia. O buraco do peito não aparecia nos exames e, portanto, tudo bem.
Até que veio. Alto, viril,
dominador. Homem. Disritmou seu compasso cardíaco, sufocou-lhe os pulmões e anuviou
sua vista. Fez surgir em seus raios-x, uma imensa mancha branca. Clinicamente –
diziam os médicos – tinha o tamanho exato do amor! E pediram-lhe repouso.
Um comentário:
Os estados terminais que convivo são por desamor ou por nunca amar. Vazio infinito. Adorei a terminalidade de Miranda, explosão de vida!
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