quinta-feira, 4 de julho de 2013

Talento à Queima-Roupa


Um quarto escuro e um silêncio abismal. Tão quieto que é possível ouvir o desespero mudo dos que habitam aquele quadrante vazio. Anônimos e invisíveis, aos outros. Atemporais, no escuro absoluto. O silêncio ecoa pela imensidão incalculável do quarto do “completo nada”.

Os braços se tocam, hostis. Ombros e cotovelos se empurram e se digladiam com truculência. Não que intencionem prejudicar o colega oculto de breu, mas, dispostos apenas a defender o próprio, na iminência dos disparos. Apesar do nada lá, tiros certeiros surgem esporádicos.

Clarões fugazes despontam do céu e cruzam, numa fração de segundo, o preto ao redor. Quase dá para ver o redor, mas, logo a luz atinge um determinado ponto e imediatamente está tudo preto outra vez. A sensação neste ambiente solitário, senhores, é desesperadora!

De repente, outro clarão! Os muitos, amontoados ali, tomam o mesmo susto ruidoso de todas as vezes e começam a se manifestar. Atiram-se uns sobre os outros. Se chutam e se mordem, tentando absorver o destino do ponto luminoso que, mais uma vez, atingiu onde quis.

E, como um meteoro alucinado, atropelou a cabeça de um deles, o desintegrando no mesmo instante. Novamente no escuro, milhões exalam a frustração de não serem atingidos na testa. Ou mesmo no peito, ou nas costas, em um dos braços ou, ao menos, de raspão no pescoço.

Todos ali, ocos de ideias, desesperados pelo lampejo radiante, aparentemente randômico, que surge nos céus e arrebata um deles. Nunca um qualquer, pois, apesar de ocultos, acaba sempre baleando um Picasso, um Tolstói, uma Woolf ou uma Nina. Nós, simplesmente, não...

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