Um quarto escuro e um silêncio
abismal. Tão quieto que é possível ouvir o desespero mudo dos que habitam
aquele quadrante vazio. Anônimos e invisíveis, aos outros. Atemporais, no
escuro absoluto. O silêncio ecoa pela imensidão incalculável do quarto do “completo
nada”.
Os braços se tocam, hostis.
Ombros e cotovelos se empurram e se digladiam com truculência. Não que
intencionem prejudicar o colega oculto de breu, mas, dispostos apenas a
defender o próprio, na iminência dos disparos. Apesar do nada lá, tiros certeiros
surgem esporádicos.
Clarões fugazes despontam do
céu e cruzam, numa fração de segundo, o preto ao redor. Quase dá para ver o redor,
mas, logo a luz atinge um determinado ponto e imediatamente está tudo preto
outra vez. A sensação neste ambiente solitário, senhores, é desesperadora!
De repente, outro clarão! Os
muitos, amontoados ali, tomam o mesmo susto ruidoso de todas as vezes e começam
a se manifestar. Atiram-se uns sobre os outros. Se chutam e se mordem, tentando
absorver o destino do ponto luminoso que, mais uma vez, atingiu onde quis.
E, como um meteoro alucinado,
atropelou a cabeça de um deles, o desintegrando no mesmo instante. Novamente no
escuro, milhões exalam a frustração de não serem atingidos na testa. Ou mesmo
no peito, ou nas costas, em um dos braços ou, ao menos, de raspão no pescoço.
Todos ali, ocos de ideias, desesperados pelo lampejo radiante, aparentemente randômico, que surge nos céus e arrebata um deles. Nunca um qualquer, pois, apesar de ocultos, acaba sempre baleando um Picasso, um Tolstói, uma Woolf ou uma Nina. Nós, simplesmente, não...
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