Gritei de longe, a largos e
desesperados passos, que segurassem a porta. Já passava da hora! Apressado,
mas, antes de me aproximar, vi dedos delicados esticarem-se e salvar meu
atraso. Suspirei aliviado. Penetrei o elevador e sorri, com toda a minha
cordialidade e débito eterno.
Estávamos sós. Só nós dois,
presos àquele pequeno cubículo. Pressionei o quarenta e três e percebi que ela,
deusa da gentileza e, por acaso, da beleza, desceria no quarenta e dois. Esses
cinco minutos de atraso destruiriam meu dia, mas, com ela ali, sorrindo para
mim, dane-se!
Eu ainda não sabia, mas, o sorriso cordial ainda sobrava em meus lábios, congelado no rosto. Vislumbrado e
denunciado pelo grande espelho ao fundo. Tentei dissimulá-lo, mas, a beleza única
daquela jovem ninfa ceifava qualquer tentativa de uma expressão menos
apaixonada.
Foi amor à primeira vista! Uma
vontade alucinada de cortejá-la por todos os cento e vinte segundos que
teríamos juntos. Só nossos, naquele pequeno espaço metálico e espelhado. Mas me
aquietei, e ela desviou o olhar. Espelho, painel, chão. Perdi-a em menos de um
minuto.
Subitamente um cheiro.
Indiscreto. Incômodo. Constrangedor. Como se algo em decomposição gritasse de dentro do
intestino, querendo sair. Olhamo-nos profundamente nos olhos. Tenso. Só nós
dois naquele claustrofóbico espaço e a vermelhidão escorria do rosto à
sola de nossos pés.
Eu não podia crer. Decepção!
Silêncio rompido: “Fui eu!” – Disse ela, zelosamente. Abracei-a e,
conquistado, pedi que me beijasse. Sorriu outra vez e me osculou a testa.
Despedimo-nos. Cúmplices, pois, só nós dois, apaixonados, sabíamos que, na
verdade, não tinha sido ela!
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