Eu rio. Da graça que perdi em algum
canto da vida (que anda meio revirada). Rio da desgraça de ter perdido a graça,
e de ter descoberto nas primeiras badaladas da noite, a desgraça que é ter
perdido a droga da graça. Perdi foi o sal da sopa, salpicada com letras repetidas
de amido.
Sinto-me, aliás, todo sem sal,
nessa enésima despedida (binária, cheia de zeros e uns). Sinto que os frutos
colhidos caíram todos do pé e escaparam pelos dedos, rolando amassados, morro abaixo.
Que descuido deixa-los despencar assim! E já não tenho pernas para o morro
íngreme.
Assisto-os fugir da vista (que
é a última a perdê-los), rodopiando desengonçados para muito além de onde poderei
encontrá-los, quando o mundo reeditar as linhas retas. De onde estou, fica só a
fome. E os bigatos dos frutos, também famintos, esperando que eu me decomponha.
Pois decomponho-me, vermes
malditos, mas, tenham calma! Compartilhem deste último prazer da lamentação
gratuita e óbvia, que ofereço-lhes em seguida a carne putrefata. Quero mais
nada com este corpo cheio de artroses e manias bobas. Tentei de tudo, para ter
de tudo.
E descobri que tudo é tanta
coisa, que jamais poderia ser armazenada. É tão abundante que, jamais catalogada.
É tanto, que não cabe em um lugar só. Quem no mundo para ter tudo? Deus deu a
graça da escolha e escolha, a Deus é obrigação (a máxima que não perde a
graça!).
Ter algo é,
incontestavelmente, não ter outro algo qualquer. Por isso a gente escolhe. Pela
obrigação e pelo esporte. A porta dos desesperados. Duro é quando tomam a
decisão por nós... Mérito de Deus dar a brincadeira e nos deixar brincar. Então
me deixa brincar também!
Deixa, que eu levo a
brincadeira a sério. Jogo para o alto o tabuleiro e me atiro no jogo. Com uma
vontade incontrolável de salgar minha sopa, de recolher os frutos andarilhos e
esmagar seus vermes. Doido (como um bom doido) para rir ruidosamente e logo, da
graça recuperada.
Um comentário:
Fa, eu não entendi...
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