Trata-se de um vício, e dos
mais refrescantes. Se qualquer dia desses algum diagnóstico clínico: Vício. Do
latim Vitium. “A prática frequente de
um ato considerado pecaminoso”. “Um hábito inveterado, mania”. Ou ainda, meu
preferido: “Dependência do consumo de uma substância”.
É exatamente disso que se
trata! Obsessão. Minha fuga, reclusão e total alienação. Sou o mais indiscreto
consumidor. O delinquente dependente que, salvo as horas de pura impossibilidade,
entregue de corpo, alma e goela ao que mantém vivo, embora também, mate aos
poucos.
Mas, se para morrer aos
poucos, respirar a poluição das metrópoles ou o tédio (do que restou) do
interior, já bastam, viciado na vida! No que mais? Celebrando a devoção maior
que minhas forças, contrárias à corrente que leva na direção da maré. Sem
canoa, sem remo e sem rumo.
Decepo logo o lacre que me
distancia do elixir mágico da felicidade. O invólucro irresistente que faz nada
senão mero charme à minha necessidade, cada vez mais frequente, diária e vital.
Esbaldo-me no suco. Derrotado e sem oxigênio, que a formulação química da vida
é outra!
Satisfaço-me na solidão ou na
multidão, na subversão do corpo e da mente. Na verdade, é na sobversão! Ora
essa, nunca mais para baixo, e nunca mais menos! Não enquanto envolvido nos doze,
treze ou quinze por cento do valor nutricional que o corpo pede, para ficar de
pé.
Mesmo que cambaleante. Pois o
gingado proporcionado é suingue em pista de dança. E danço a vida, que é na
pista que ela acontece. Dois para lá, dois para cá, chão! Taça, pulo, copo, sacolejo,
chão. Cada nova porção sorvida é desapego ao corpo físico, é força transcendental.
Esforço-me erectus por convenção, ao mesmo tempo em
que me lixo para a condição reta do corpo. Quanto mais dentro do vício (e da
vida), menos dependente da massa estúpida de carne, pele, ossos e cicatrizes. E
quanto menos resisto, mais vivo a felicidade intangível da vida.
Brindo os pulmões pulsantes. O
coração vibrante. O fígado impenetrável! Brindo essa coisinha pouca que nomeei
felicidade. Eu brindo porque gosto, e também quando me lembro. E lembro
bastante, que a memória está sempre ali, martelando. O que eu gosto, é do
gosto... da vida!
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