sábado, 14 de julho de 2012

Eu Gosto é do Gosto



Trata-se de um vício, e dos mais refrescantes. Se qualquer dia desses algum diagnóstico clínico: Vício. Do latim Vitium. “A prática frequente de um ato considerado pecaminoso”. “Um hábito inveterado, mania”. Ou ainda, meu preferido: “Dependência do consumo de uma substância”.

É exatamente disso que se trata! Obsessão. Minha fuga, reclusão e total alienação. Sou o mais indiscreto consumidor. O delinquente dependente que, salvo as horas de pura impossibilidade, entregue de corpo, alma e goela ao que mantém vivo, embora também, mate aos poucos.

Mas, se para morrer aos poucos, respirar a poluição das metrópoles ou o tédio (do que restou) do interior, já bastam, viciado na vida! No que mais? Celebrando a devoção maior que minhas forças, contrárias à corrente que leva na direção da maré. Sem canoa, sem remo e sem rumo.

Decepo logo o lacre que me distancia do elixir mágico da felicidade. O invólucro irresistente que faz nada senão mero charme à minha necessidade, cada vez mais frequente, diária e vital. Esbaldo-me no suco. Derrotado e sem oxigênio, que a formulação química da vida é outra!

Satisfaço-me na solidão ou na multidão, na subversão do corpo e da mente. Na verdade, é na sobversão! Ora essa, nunca mais para baixo, e nunca mais menos! Não enquanto envolvido nos doze, treze ou quinze por cento do valor nutricional que o corpo pede, para ficar de pé.

Mesmo que cambaleante. Pois o gingado proporcionado é suingue em pista de dança. E danço a vida, que é na pista que ela acontece. Dois para lá, dois para cá, chão! Taça, pulo, copo, sacolejo, chão. Cada nova porção sorvida é desapego ao corpo físico, é força transcendental.

Esforço-me erectus por convenção, ao mesmo tempo em que me lixo para a condição reta do corpo. Quanto mais dentro do vício (e da vida), menos dependente da massa estúpida de carne, pele, ossos e cicatrizes. E quanto menos resisto, mais vivo a felicidade intangível da vida.

Brindo os pulmões pulsantes. O coração vibrante. O fígado impenetrável! Brindo essa coisinha pouca que nomeei felicidade. Eu brindo porque gosto, e também quando me lembro. E lembro bastante, que a memória está sempre ali, martelando. O que eu gosto, é do gosto... da vida!

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