No chão rachado, nem sinal de
água. A terra seca e craquelada traz nela uma beleza sórdida e sedenta.
Plástica, mas, tão sombria. Fabiano está estatelado, a meio caminho de qualquer
lugar, em todas as direções. Nada que faça, fará com que sobreviva, no agreste
do mundo.
Está exatamente em lugar
nenhum. Distante das câmeras da TV e da importância que as pessoas dão aos
dramas alheios. Fabiano observa o quilo de carne seca no chão e as duas peças
de rapadura caídas pelo caminho. Alguém dará falta da carne quando ela não
estiver lá.
Na dispensa arejada e
assombreada de alguém que não costuma ter fome. A família de Fabiano terá mais fome.
Quando a rapadura melar o solo seco do sertão, terão mais fome ainda. E os
mocinhos da cidade se queixarão da sobremesa ausente depois que o prato limpo.
O sol castiga o solo e a pele,
no deserto sertanejo. E a pele de Fabiano já apresenta os mesmos sintomas da
terra. Ressecada e rachada, estão quase fundidos. O tempo se estende,
lentamente. E se esgota, lentamente. Morrer, dura quase mais tempo que a própria
gestação.
Uma gota d’água e nada disso
seria necessário. A sede, o sufoco e a insolação, inexistiriam. Apenas uma gota
para uma outra história. Mais verde e azul, menos opaca. Menos crua. Anoitece
na terra do abandono. O sol vai embora. Ninguém fica. Nem Deus, nem os urubus.
Sobra apenas Fabiano no breu
absoluto. Um escuro frio, que o refresca e mata, sadicamente e sem nenhuma
pressa. Sobra junto, a respiração ruidosa e roca de seus pulmões empoeirados. É
sábado, e a vida segue ao redor do mundo. A mesma vida desidratada e anônima do
sertão.
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