Depositou o copo meio cheio (de
água) sobre a mesa. Delicadamente, para que não esbarrasse em nenhum outro
artefato da elegante mesa. Prezava pela discrição e, com todo cuidado do mundo,
perguntou: - Arnaldo, será que isso vai dar certo? – Arnaldo se mostrou confuso.
- Nós dois, você diz? – Lorena
acenou positivamente. Ambos tomaram mais um gole de suas águas (em absoluto
silêncio) e logo o garçom apresentou o vinho. Arnaldo autorizou que fosse
servido. Brindaram, como se brindassem pelos ali presentes, e tragaram a taça de
uma só vez.
- Acho que não, Lorena! – Ela engasgou
suavemente, como se, quase surpresa. Se entreolharam, buscando algo que os
fizesse dissuadir do fracasso iminente daquele jantar. – E o que você
sugere? – Francamente? – Sim – A lagosta! – Me refiro a nós dois! – Ah sim. Mais
vinho!
Lorena tratou de acionar o
garçom e Arnaldo, batendo displicentemente com o indicador na garrafa vazia,
solicitou outra. E lagostas. No fim do jantar (e da quarta garrafa de vinho),
Lorena parecia menos reticente e ousava exibir seu sorriso aos demais, naquele
jantar beneficente.
- Me sinto o centro das
atenções, todos nos olham! – Creio que
seja um bom sinal, beba seu vinho! – Lorena virou, num só gole, a décima (ou
décima primeira) taça e gargalhou ruidosamente, chamando toda a atenção no
enfadonho evento. Depois brindou, de taça vazia.
Uns pareciam constrangidos com
a senhora de sessenta anos, à mesa com um garoto de vinte e poucos. Outros
pareciam discretamente contrariados. Lorena, recém traída (e divorciada), só parecia
feliz, e realizada, com seu garotão. Como se representasse toda uma categoria.
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