domingo, 22 de julho de 2012

Domingulite


                                                                                                             Arte: Cadé Monteiro

Calafrios em cada uma das vertebras. Individuais, sucessivos e em intervalos regulares. Pupilas dilatadas e mãos tremendo involuntariamente. Passam as horas e aumenta a angústia. É uma dor insuportável que aflige dentro da alma mas que, cruel, não irrita um só pelo do lado de fora.

Pergunto quando é que os domingos terão, finalmente, cara de começo? Diabo de dia que abre as semanas (todas elas) com a maior sensação de fim do mundo! Não sou só eu, sei, por isso, colega, que agonia! Deve ter um termo técnico para nossa patologia e algum tarja preta indicado.

Daí me entupo infanto-juvenil, da lua em diante, como se confeitos coloridos para hipoglicêmicos compulsivos. Dê-me apenas o nome que o resto é comigo! Quinhentos miligramas, orabase, hora em hora. Domingo a noite não faz bem. Autoterapia autodestrutiva. Dessa vez, só eu?

Tenho cá minhas dúvidas, pois, conheço os que me cercam. São essencialmente minha inspiração e uma metade de mim que dedico à configuração complementar do ego. Meio de mim sou eu, meio de mim são eles. E eles pensam, sofrem, rangem os dentes no escuro.

Mas me mantêm de pé seis dias por semana. Nos dias menos solitários e menos individuais. Dias que me ocupam de tédio, dispersão, desencontros, rotina e alguma lucidez na inspiração. Dias em que o álcool é possível com diálogos eloquentes, incoerentes e tilintados a cada gole.

Domingos não são assim, porque, se domingo fosse um dia como qualquer outro, eu estaria lá, qualquericando a noite para afoga-lo no tinto profundo da taça. Em diálogos eloquentes, incoerentes e tilintados a cada gole. Pois, o único meio de ser, ou, do contrário, domingo...

Que é sim, irritantemente igual, ainda que escondido em uma véspera de feriado. Semana a semana é a mesma coisa. Mais de mil e quinhentas delas já, mais três mil adiante. Tento fingir, todo domingo, que ficará tudo bem, mas, uma hora, a cabeça vai para o travesseiro e...

Vem as promessas atrasadas, os compromissos postergados, as metas caducadas e as pessoas. Todas aquelas que partiram. Para se proteger ou para me proteger, para viver histórias da própria vida, incompatível à minha. Tem sempre algum novo protagonista na página virada, do capítulo do passado.

Me recomponho na segunda-feira. O dia do alívio! Quando tudo começa de fato. Sofro, meus caros, de um caso crônico de domingulite. E se nalgum dia vocês já não me encontrarem por aí, saibam que fiquei entalado entre a televisão e o sofá. Catatônico e cozido, na baixa madrugada.

Um comentário:

Diego Ruiz de Aquino disse...

"Tem sempre algum novo protagonista na página virada, do capítulo do passado."