Arte: Cadé Monteiro
Calafrios em cada uma das
vertebras. Individuais, sucessivos e em intervalos regulares. Pupilas dilatadas
e mãos tremendo involuntariamente. Passam as horas e aumenta a angústia. É uma
dor insuportável que aflige dentro da alma mas que, cruel, não irrita um só pelo do
lado de fora.
Pergunto quando é que os domingos
terão, finalmente, cara de começo? Diabo de dia que abre as semanas (todas
elas) com a maior sensação de fim do mundo! Não sou só eu, sei, por isso, colega,
que agonia! Deve ter um termo técnico para nossa patologia e algum tarja preta
indicado.
Daí me entupo infanto-juvenil, da
lua em diante, como se confeitos coloridos para hipoglicêmicos compulsivos. Dê-me
apenas o nome que o resto é comigo! Quinhentos miligramas, orabase, hora em
hora. Domingo a noite não faz bem. Autoterapia autodestrutiva. Dessa vez, só
eu?
Tenho cá minhas dúvidas, pois,
conheço os que me cercam. São essencialmente minha inspiração e uma metade de
mim que dedico à configuração complementar do ego. Meio de mim sou eu, meio de
mim são eles. E eles pensam, sofrem, rangem os dentes no escuro.
Mas me mantêm de pé seis dias
por semana. Nos dias menos solitários e menos individuais. Dias que me ocupam
de tédio, dispersão, desencontros, rotina e alguma lucidez na inspiração. Dias
em que o álcool é possível com diálogos eloquentes, incoerentes e tilintados a
cada gole.
Domingos não são assim,
porque, se domingo fosse um dia como qualquer outro, eu estaria lá,
qualquericando a noite para afoga-lo no tinto profundo da taça. Em diálogos eloquentes,
incoerentes e tilintados a cada gole. Pois, o único meio de ser, ou, do
contrário, domingo...
Que é sim, irritantemente
igual, ainda que escondido em uma véspera de feriado. Semana a semana é a mesma
coisa. Mais de mil e quinhentas delas já, mais três mil adiante. Tento fingir,
todo domingo, que ficará tudo bem, mas, uma hora, a cabeça vai para o
travesseiro e...
Vem as promessas atrasadas, os compromissos postergados, as metas caducadas e as pessoas. Todas aquelas que partiram. Para se proteger ou para me proteger, para viver histórias da própria vida, incompatível à minha. Tem sempre algum novo protagonista na página virada, do capítulo do passado.
Me recomponho na
segunda-feira. O dia do alívio! Quando tudo começa de fato. Sofro, meus caros,
de um caso crônico de domingulite. E se nalgum dia vocês já não me encontrarem por
aí, saibam que fiquei entalado entre a televisão e o sofá. Catatônico e cozido,
na baixa madrugada.
Um comentário:
"Tem sempre algum novo protagonista na página virada, do capítulo do passado."
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