segunda-feira, 28 de março de 2011

A Dona do Pedaço



Podia ter conquistado o mundo se quisesse. Isso é o que eu teria feito! Ela estava numa posição confortável e privilegiada. Nunca vi alguém com tanta popularidade em tão pouco tempo. E fazendo um monte de nada. Sua notoriedade era por um monte irritante de nada.

Mal se expressava, apenas uns e outros espasmos, claramente involuntários. Não tinha vontades, manias, ambições. Não fosse o aspecto humanoide, teria facilmente a confundido com uma grande batata. Seus trunfos? O cheiro e um jeito de olhar. E sabia jogar esse jogo.

A qualquer sinal de desamparo, bastava o mínimo de ruído para atrair todos os olhos e cuidados para si. Usualmente debochava seu irresistível carisma para mim. Juro que aquele riso largo e desdentado era nada mais que desdém. E eu me ocultando, todo enfraquecido.

Aonde quer que estivéssemos, nos mesmos lugares de sempre, já não éramos mais reconhecidos, minha mulher e eu. Especialmente eu, o coadjuvante da vez. Fiz do cuidado com a higiene, um capricho de dias pares. Segundas, quartas e sextas. Afinal, para que? Que horas?

A barba cresceu, o cabelo, alguns odores indiscretos. Passava as vinte e quatro horas do dia engolindo e topando toda a atenção que aquela premeditada invasora exigia. Era viciante e carcerário, como se tentasse me livrar, mas não sem antes ver o que aconteceria em seguida.

Foi assim de repente, que minha existência estava completamente ofuscada pela dela. Não que eu fizesse qualquer questão do centro, mas já beirava a invisibilidade. Comecei, aliás, a questionar o meu papel ali. Que diabos um homem inútil como eu faz numa situação dessas?

Estava mais do que claro que já não tinha mais espaço para minha vida. Tínhamos, minha mulher e eu, sucumbido às exigências da nova dona do pedaço. Nos tornamos funcionários dessa poderosa instituição, sem quaisquer direitos trabalhistas. Ou ao menos um sindicato!

Alvoroçava nossas vidas com olhos de quem não se preocupa sequer com o destino de suas necessidades fisiológicas. Posso dizer com a segurança do verbo, que ela cagava para o mundo! Já o mundo sorria de volta para ela, com suspiros de aprovação. O mundo, e nós dois.

Quando eu era menino, acreditava que a liberdade é a única coisa no homem que ninguém, jamais, poderia tirar. Era bastante fácil ser um garoto mimado da classe média. Agora eu estava lá, preso a uma situação planejada. Louco para sair e, ao mesmo tempo, para ficar.

Fiquei nessa história um ano, pouco mais. Foi o que consegui suportar. Um dia, algum tempo depois dos primeiros passos de liberdade (dela), estacionou no pé do sofá onde eu descansava e disparou: Pa-pa! - Dali em diante, assumi o papel e me tornei o idiota mais feliz do mundo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ahhhhhhhhhum, que lindo! Eu e ela adoramos!!!

Má! disse...

deve ser impossivel não ficar todo bobo com o filho... e fazer tudo por ele!!! Beijos