quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um Irã descomplicado


Foi de propósito. Foi sim! Há muito que tento me introduzir no cinema oriental alternativo (título arbitrariamente meu). Irã e Índia são países referência na produção cinematográfica que, até onde sei se refere à quantidade, mas, até onde gostaria de saber, à diversidade e qualidade. Confesso: nunca contemplei uma película qualquer de um desses países (desconsidero o “Quem quer ser um milionário”); confesso embaraçado: tenho preconceitos com o cinema oriental; confesso dissimulado: um preconceitozinho de nada; confesso resoluto: me sinto em crise confessional!

Pois bem, o que acontece é que aconteceu há muito pouco (e pouco mesmo, mal deu tempo de fazer a digestão) a experiência prima! Minha viagem sensorial ao litoral iraniano se deu no terceiro dia do mês de fevereiro do ano de dois mil e dez. É importante cravar nos autos porque trata-se de uma experiência relevante, que se mostrou proveitosa e, mais que isso, rompeu parte do preconceito (zinho) com o oriente (é o tipo de fantasia deles que não me desce, se cabe aqui argumentos sem fundamento).

O filme em questão é “À procura de Elly”. Descobri sua existência numa despretensiosa busca por atividades de meio de semana. Fui direto às salas alternativas porque estava justamente buscando algo diferente. Quando vi a nacionalidade do “Elly”, desisti da sinopse imediatamente e me dediquei aos horários de exibição. Por se tratar de meio de semana, é preciso revolucionar os horários e encaixar, entre uma atividade e outra, a dedicação cinematográfica. Fui. Naturalmente cheguei no horário limite, depois da sessão de trailers. Uma lástima irreparável! E sim, isso tudo é apenas para dizer que sou um perfeito consumidor de trailers.

Nos primeiros minutos, lembrei da sinopse e tentei não me arrepender por ter a esnobado. Demorei um bocado para me situar com os personagens apresentados. Entendi, depois, fazer parte da proposta. A dinâmica do filme, nesse caso (e isso vai para os que também desconhecem o “cinema oriental alternativo”), é bastante aproximada da tradicional escola americana, muito fácil de acompanhar. Digo porque, do alto do meu preconceito, imaginava ou um filme transcendental com muitas referências culturais do desconhecido (a mim) mundo oriental ou, imaginava um filme transcendental com muitas referências culturais do desconhecido (a mim) mundo oriental. Sim, imaginava isso e ponto.

Na verdade trata-se de uma história de mistério. A Elly literalmente some ao alcance dos olhos de todos e o mote é saber onde ela foi parar. Começa com um grupo de amigos da época da universidade que se encontram para uma viagem de fim de semana e, sem que nos sejam devidamente apresentados, partem juntos para uma casa na praia. Só depois de alojados que nós, espectadores, começamos a entender quem é quem ali. Aliás, esse desapego à construção imediata do personagem é bastante providencial e foi o que mais se distanciou da estética padronizada dos meus típicos filmes ocidentais. Enquanto o episódio do sumiço não acontece (se dá logo depois de um afogamento), o filme é bastante morno. Depois que a trama começa a se construir, aliás muito bem engendrada, a tensão aparece e conserva os olhos atentos na tela enquanto a cabeça sugere mil hipóteses.

Eu bem que gostaria de oferecer as sensações que tive ao longo da trama, mas não pretendo influenciar as sensações alheias. O que me comprometo a contar é que o filme é muito bem articulado, tem boas atuações, não fica nada distante do padrão Sigfield de cinema, convence e, embora não deva ser a grande obra iraniana (tampouco oriental), vale como introdução. Como assimilação dos dois mundos cinematográficos. E que venha o Irã 3D.

Um comentário:

Fabiano Malta disse...

Mas olha só o que descobri! E um novo mundo se fez depois do novo mundo de ontem: http://cinemairaniano.blogspot.com/