quarta-feira, 5 de junho de 2013

A Última Bolha de Oxigênio


Nada! Agita o corpo como pode e prende a respiração. Não para! Sacode os braços e as pernas. Resiste até que a cãibra o vença. Dance os membros na grande sopa oceânica e nada! Nada pela vida, meu chapa, senão da vida sobra nada! E não se nada no nada. Se faz é nada lá!

Tem pulmão? Nada! Estufa o peito feito bexiga e deixa a cargo da maré. Desiste não, que para chegar ao chão tem água a beça. E tubarão. É fundo. O buraco do mundo é fundo e frio. E solo bom é linha reta. Lá mais longe que a vista vê! Rema esse barco de si que é só o que te resta.

E “só o que te resta” é tudo o que você tem! Não pense que é pouco. O pouco que sobra ainda é um tudo. E tudo é nada, ao contrário. Nada! Se já nadou isso tudo, nada mais! Nada para frente, não olha para trás. Que o passado te traz, âncoras de ferro. E memórias enferrujadas.

Lembranças frescas do naufrágio. Teu barco pesava e não aguentou. Agora é contigo. Nada leve, marujo! Sem nada. A terra firme te aguarda, lá na ponta do horizonte. Aguenta firme e nada, que a tormenta úmida do mar, será coisa mínima na ilha aonde o corpo irá se renovar.

Pensa que é o único jeito. De ter chão. Repita em mantra que: Cada braçada a mais, é uma braçada a menos. Mantenha o prumo, nadador, que logo desponta um micro ponto verde nessa imensidão azul. E aí, é logo ali. Bem junto de onde estamos todos. Secos, sãos e salvos.

À sua espera, para acabar com a solidão, e com o desamparo do mar. Nada! Nada mais! Nada tudo, que falta pouco! E mesmo que o corpo se entregue, muito longe da costa, desiste nunca. Ainda que comece a afundar, encha o peito de vida, até a última bolha de oxigênio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nadinha...