sábado, 14 de janeiro de 2012

A Couve-Flor


A fila no banco. O Serviço de atendimento ao consumidor. A pré-estreia do filme do ano. Os quatro, cinco, seis anos de faculdade. E, claro, o amor. O sinal vermelho. O fim do expediente. O apito do micro-ondas, e o do juiz. O reveillon e todas as contagens regressivas da nossa vida.

O tempo que perdemos esperando. Por tudo isso. Por tudo. Esperando a vida, na esperança dela tomar nossas rédeas e nos guiar a algum caminho que, de quebra, é melhor que seja logo o melhor. Tarde demais quando percebemos a falta absoluta do caminho à frente.

Aí já estamos muito velhos e ranzinzas para reassumir o controle. Cansados demais para lutar pelos sonhos de quando jovem. Sonhar é coisa de moleque! Nem trinta às costas e já velho demais para a vida. Se não há tempo a perder, perder o ontem é o trem que parte da estação.

E cada um de nós, sem as passagens, acenando (lenços vibrantes) patéticos e desmilinguidos à falta de autonomia para o que vem a seguir. E é nesse ponto que a vida assume a exata condição de uma... couve-flor. Apática na textura, no sabor e no impacto que causa ao redor.

Pois, afinal, que impacto causa uma estúpida couve-flor? Ridículo bonzai albino! É apenas disso que se trata. Porque não importa se couve aos oitenta, cinquenta, trinta ou doze anos. Uma vez couve, é bom se despedir do trem que já abandonou a estação com seu assento vago.

Então, em verdade lhes digo, quando a vida lhe metamorfa vegetal, assuma seu posto! É hora de enfrentar a panela e alimentar bocas mais famintas. De arte, de conhecimento, de revoluções. Bocas que vão se lambuzar até os ossos, e com vontade, da vida que você negou.

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