O grande sinal é o espelho. Quando você olha para ele e percebe que algo está errado. Algo é você! Mas nem tão errado que te confunda o propósito. Afinal o propósito é, também, você! E, ainda que insosso, corra! Melhor você perceber a tempo, que ser avisado tardiamente.
Pois, se vierem lhe reclamar imperfeito, assimétrico e infértil, tarde demais. Aí é simpatia em demasia e, da sobra se espreme o lucro. Mas quanto derrotismo na acomodação da sobra! Toda a insegurança do mundo e você admitindo de bom grado o que a sobra lhe oferecer?
Há algo de errado, é evidente. Todos por aí se encaixando e você à espera do que te cai no colo. Porque colo ocupado é mais pesado que colo vazio. E de agora em diante é por peso... Nada disso! Apesar dos atributos (ou a falta deles), não há passo mais largo à frente que a confiança.
E confiança-auto. Dela toda no bolso, de sobra, pingando pela rua, manchando a roupa. Que importa um nariz grande, se bom argumento; barriga saliente, se carisma; estrabismo, se inteligência. Traços lotéricos e músculos definidos são acessórios. Importa só o que importa.
Porque quando o tempo vier cobrar a beleza que a sorte lhe presenteou, será tarde para o desapego. E aí Botox, bisturi, cinzel e enxada. Mas tanta intervenção não dura. Aí loucura. Ou suicídio, depende do colhão. Mas cedo ou tarde, a terra come. Os belos e os feios.
E antes que deteriore o cérebro você perceberá – é sempre antes, para que se sinta o amargor do equívoco – que tanto capricho é nada senão pura vaidade. E necessidade de provar aos demais o volume do arrebate. Cem mulheres, mil, todas elas. O maior dos garanhões.
E quando a vida passa. Faltou uma. Uma só. Ela! A que vale por todas as outras. Ao alcance, mas, despercebida na pilha irrelevante de muitas silhuetas. Aquela que lhe acaricia a pança com excitação, que lhe toca o nariz onomatopaicamente e que, afinal e apesar, te ama.
Mas é só na atrofiação do órgão que você percebe ser aquela! E então calcula se o vazio do fim dilata o precipício do meio. Ou se apenas ponte (ao volume acumulado). A vida não é amor, caros, mas, confiança. Nos erros e nos acertos. Na certeza da irrelevância dos arrependimentos. E só!
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