segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SWÚltimo


Dá uma sensação boa de não domingo, escrever em pleno domingo, com um feriado logo ali na terça próxima. E vem a calhar, depois de um sábado “peculiar” em Itu. E paro em peculiar, por ora, deixando os adjetivos mais específicos para as próximas linhas. Melhor respirar!

Estou ainda reunindo forças para expor com precisão o sábado. De rock, mas não só isso, nem perto disso. Será tarefa complicada transpor todas as sensações (absolutamente novas) de estar na abertura do SWU, evento monstro realizado na mini estância megalomaníaca de Itu.

Tinha até ontem, à flor da pele, a experiência do meu último grande festival, um ano atrás. O Maquinária. Ah o Maquinária, aquele do Faith no More e Jane’s Addiction; de introspecção, organização e paz. Que saudade dos bons fluidos dos festivais de outrora. Pois é, tão recente.

Mas vamos aos detalhes: O SWU prometia, na primeira noite, um evento inesquecível com apresentações de Los Hermanos (voltando aos palcos depois de alguns anos) e Rage Against the Machine (reunidos há pouco, pela primeira vez no Brasil). E outras boas surpresas.

Com toda minha displicência, decidi na semana do show ouvir o restante das bandas que iriam se apresentar nos quatro palcos do festival e acabei encontrando Apples in Stereo, uma oferta recente do meu irmão, que dei pouca bola na ocasião. Realmente muito divertidos, quis ver.

Daí vinha Infectious Groove, The Crystal Method e Mallu Magalhães como atrações que valiam por estarem ali, inclusas no preço. Com a desbravante campanha sonora de descobrir o que rolaria, conheci The Mars Volta, The Twelves e Letuce + qinhO. Pronto a lista estava completa!

Aí começou a bagunça (por enquanto culpa minha). Os horários se misturavam e algumas bandas seriam sacrificadas. Los Hermanos e Rage Against estavam a salvo. Do resto, o que tivesse sido escalado em qualquer horário oportuno seria contemplado com prazer.

No que me cabia, o plano era reproduzir as sensações do Maquinária e talvez turbiná-las, conhecendo agora o potencial emocional destes eventos. Estaria sozinho no meio de muita gente, com tempo para mim e ouvindo bandas que me remetiam à nostalgia.

Outra ruptura com o sólido esquema da minha programação foi o oportuno convite de uma parceria inesperada. No primeiro impacto, confesso, de negação, ressenti calado! Em seguida a aceitação e, depois de tudo, o alívio da companhia certa e fundamental para a ocasião.

Ainda era terça e tudo isso já tinha balançado minha modesta organização. No decorrer da semana descobri os cem reais que me custariam estacionar o carro e, mais tarde, descobri que cem reais e um quilômetro e meio de distância para o local do show. Bolei um plano, estúpido!

As alternativas de garagem eram: A do quilômetro e meio por cem reais, quinze quilômetros e cinquenta reais, no kartódromo de Itu ou à sorte de Deus na rodoviária municipal, vinte quilômetros de distância. Todas ofereciam ônibus até o local do show e aportei na rodoviária.

Tinha ido sozinho até a cidade e os descontos por estar com o carro cheio não me fariam efeito. Além do mais, me pareceu sensata a decisão de poupar algum trocado por quinze minutos a mais em um ônibus lotado. Minha parceria então chegou, vindo do céu, e partimos.

Tudo andava perfeitamente dentro dos conformes embora alguma coisa soasse estranha. Não sei bem o que era ainda, mas eu não me senti acolhido naquele campo. Fiquei contente de não estar sozinho e, melhor que isso, bem acompanhado. Ali sim me sentia acolhido.

Pingamos de tenda em tenda ouvindo os shows menos importantes. Perdemos algumas aberturas, dispensamos alguns encerramentos e perambulamos até que chegasse o momento alto dos Hermanos ou do Rage Against. Acabei perdendo Apples, o único triste sacrifício.

A distância para o palco dos Hermanos era considerável mas era possível vê-los, minúsculos, lá no palco. Foi bonito o sentimento rememoriado e a possibilidade de cantarolar quase todas as canções. Raro. A apresentação impecável não surpreendeu, apenas atendeu perfeitamente.

Mais tarde, sem grandes expectativas, Rage entrou e, mesmo carregando o fardo de ser a possível última banda idolatrada da minha adolescência rebelde, não despertou qualquer euforia. Talvez porque o show, certamente vibrante, rompesse o clima a cada interrupção.

Foram três ao todo: A barricada que cedeu e o som que foi cortado, duas vezes. A cada interrupção a sensação, em processo, evaporava. Ao menos, todas as músicas esperadas foram vociferadas por Zach de La Rocha e, mesmo muito longe do palco, o bate cabeça nos alcançou.

O mais exaltado batedor, dessa vez, notou logo meu ímpeto pacífico e protetor e, em um gesto solidário, abraçou sua acompanhante construindo uma pequena fortaleza ao nosso redor. Assim, os que estavam dispostos a se ferir, afastaram-se respeitosamente alguns passos.

Quando acabou senti alguma coisa estranha, um pavio que não incendiou. O SWU não tinha despertado nenhum sentimento em mim. Parecia nascido com o destino apócrifo de não constar nos meus autos. Mas isso ainda iria mudar. O inesquecível veio a seguir.

Eu poderia ter notado pelo homem nu que cruzamos na via sacra rumo à saída. Foi esse tipo de pitoresquice que ficou faltando. O rapaz andava pacificamente sem qualquer ornamento que protegesse as partes e, pelo inusitado, mereceu meu respeito. Mas a noite não se salvou.

Na fila do ônibus, puro caos. Como conter cinquenta mil jovens impacientes? Todos tinham seus motivos para ir para casa. Alguns pegariam mais ônibus, para outras cidades. Uns para outro estado. O fato é que estar pacificamente na fila certa não me colocou dentro do ônibus.

Depois da fila inútil, o pessoal da companhia rodoviária abdicou da responsabilidade, confiando apenas no bom senso juvenil. Ninguém mais sabia onde as filas estavam, que ônibus ia para onde e qual era o ponto de partida. Os ônibus, aliás, já chegavam lotados. Explica?

Fácil! Os menos civilizados forçavam a porta e invadiam os assentos, muito antes do ponto. Logo os mais civilizados fariam o mesmo. Em seguida, até eu! Era uma selva e podia ter sua diversão não terminasse como terminou. Levamos uma vida naqueles vinte quilômetros.

Invadimos a condução à meia noite e vinte, aproximadamente. Despencamos na rodoviária às quatro e meia da manhã. Tente imaginar quatro horas de pé, em um ônibus circular, com o dobro da capacidade! Ainda estou sem analogias para uma das sensações mais boçais que vivi.

O confinamento e a impotência pela necessidade. Sem o ônibus, jamais chegaria ao destino. Com ele, chegaria ao inferno, antes da rodoviária. E provavelmente ficaria por lá, se desse para dormir, por algumas horas. Eu só pensava que, uma vez no carro, mais um trecho, dirigindo.

O mais irritante é saber que teria aguentado se mais moleque, seria fácil se o dia tivesse sido excepcional. O mais irritante é carregar essa memória do SWU. Um dia, quando não me lembrar mais quem tocou, ainda me lembrarei desse maldito ônibus. Pouco valeu a pena.

Por sorte, não estar sozinho me fez manter a compostura. Modéstia à parte, agregar boas companhias é um talento que tenho e, por esse preciso anjo (que voa, ouvi dizer), preservei minha integridade não tirando a roupa aos berros, às três da manhã. Mas beirei a loucura ali.

Hoje de manhã, domingo, acordei com a pressa de um domingo qualquer e a primeira notícia que tive foi de uma conhecida que conseguiu entrar no ônibus às seis da manhã! As SEIS! Pelo menos a essa hora eu já dormia em casa. Mas penso se ela manteve suas roupas, e a sanidade.

O cruel de todas essas mil linhas é que passei o dia estragado – não fosse por um cinema de última hora (assunto para outro texto) – e agora estou sem sono. Não me sinto aliviado com o desabafo (aliás, mais confuso) e, pode ser uma decisão precoce, mas, acho que aposentei...

3 comentários:

Má! disse...

dos céus mesmo!!! rs
hj o SWU foi uma paz, pena que ja tava acabada de ontem e eu num tenho mais nada pra falar disso!!! é melhor mentir que esqueceu!!! rs

Tati e Alice disse...

Minha nossa. Cansei só de ler. E nao pela extensao do texto...
Definitivamente, um carteado com pizza em casa?
Mas eu gostaria de ter visto DMB, Los Hermanos e mais alguns, claro, sentada no sofá, com uma coca e um pacote de bolachas!

Bruno Reis Pinto disse...

Pai do Céu!
Devia ter ficado no Maeda e pescado seu café da manhã! rs..
Teria ficado uma lembrança mais agradável! =]