Decidi voltar momentaneamente às críticas. Uma vontade incontrolável de declarar ao mundo o poder da comédia francesa atual. E falo com autoridade, pois, não só uma, mas, duas surpresas adoráveis encheram meus olhos nos últimos dias e, preciso dizer: Vive La France!
Aliás, antes devo me redimir porque, à espera da primeira, o receio era maior que o desejo e, antes da segunda, a primeira parecia ter sido a sorte de uma boa obra ocasional. No fim da segunda, a constatação de que a comédia francesa é das mais divertidas e sensíveis do cinema.
E das boas coincidências, Kad Merad é o homem que une a duas obras. O ator, franco-argelino, estrela ambas. Como protagonista na primeira e coadjuvante na segunda. Não é um grande ator e nem parece ter essa pretensão, mas, confio nele como chanceler do cinema francês.
É que Merad não se importa em sustentar um filme sozinho e, assim, parece saber escolher roteiros que sustentam o filme por si só. Não é fácil ter essa percepção. Por isso, Merad entrou para o hall das personalidades que valem meus ingressos.
Mas bem, inicio com o primeiro: A Riviera não é aqui. O filme é de 2008 e só agora chegou às nossas poltronas. Trata de vidas divididas. Philippe Abrams (Merad) é um funcionário público em crise conjugal e, para tentar salvar o casamento tem a ideia de se transferir com a família.
Para tanto, tenta a mais cobiçada repartição dos correios na Riviera francesa. Mas por forjar seu pedido, é punido indo para o norte gélido e escuso. No início vai sozinho e o filme acaba por explorar esse distanciamento que, claro, parece fazer bem ao casamento deles.
Na verdade o que a gente percebe quando o set de filmagem migra para o temido norte, é uma singela homenagem do diretor e ator Dany Boon ao ponto mais discriminado da sua França, conhecida como a região do Ch’tis. Um povo hospitaleiro e amigo, que fala um dialeto bastante peculiar. E Dany declara: é um Ch’ti!
Os primeiros minutos do filme podem tentar decepcionar. A comédia tenta uma pastelice antiquada e previsível, mas, do momento em que Philippe entra no carro até o fim, surge uma das mais bonitas obras sobre amizade. Por sinal, a mesma base da outra deliciosa comédia.
O Pequeno Nicolau é um filme de 2009 e também pousou há pouco no Brasil. É baseada na obra infantil de René Goscinny (roteirista do Asterix) e lida com as coisas do mundo adulto sob a ótica infantil. Uma espécie de Calvin and Hobbes francês.
Qualquer película com crianças ingenuamente espertinhas tende a ser, ao menos, engraçadinha. É até covardia, vide: Valentim, The Goonies, Little Giants e afins. Mas o Pequeno Nicolau vai além. Sentencia a infância como a fase mais pura, divertida e marcante da vida.
Qualquer película com crianças ingenuamente espertinhas tende a ser, ao menos, engraçadinha. É até covardia, vide: Valentim, The Goonies, Little Giants e afins. Mas o Pequeno Nicolau vai além. Sentencia a infância como a fase mais pura, divertida e marcante da vida.
O grande percalço aqui é Nicolau (junto da sua gangue) tentar evitar que seja abandonado pelos pais na floresta, depois que seu novo irmãozinho chegar. E a aflição se dá quando o menino faz associações furadas sobre a iminente chegada do suposto irmãozinho.
Cada personagem-mirim é minuciosamente bem construído e articulado, a história é delicada e provoca incansáveis suspiros. Sem falhas. Uma ode à fantasia e à imaginação infantil. Destaque para as cenas do Rolls Royce e da visita do Ministro da Educação ao colégio.
Pensando agora nas recentes experiências, concluo que Godard, Truffaut e sua Nouvelle Vague não definem o cinema francês e, meu sacrilégio cinematográfico se paga, satisfeito, nos frames de Dany Boon e Laurent Tirard. Outro sacrilégio? Já não tenho receios e reitero: Vive Le France!
Um comentário:
não sou lá fã de filmes franceses.... mas parecem bons!
Beijos
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