terça-feira, 20 de julho de 2010

Pregando uma Peça




Se depois da maresia a ressaca, antes da ressaca, infalível, a maresia. Aquele tormento silencioso e estático da falta de tudo: Opinião, atitude, disposição, talento... Não, dessa vez sem crises de baixa auto-estima, apenas uma celebração ao vazio.

De tempos em tempos, bate em mim a descarga criativa e assisto, do troninho, todo meu ímpeto pseudo-literato escoar ralo abaixo. E isso é coisa que acontece. Falo por mim, mesmo não sendo capricho meu. É a crise criativa. Invade todos os setores: Comércio, indústria e arte.

Aquele período moribundo que interrompe o expediente intelectual como que em greve rebelde e sem juízo. Não há aviso prévio para o buraco na criação. De repente acordamos desaprendidos de tudo aquilo que soava tão naturalmente oxigênico.

É um tanto desastroso e sufocante, reconheço. Mas absolutamente administrável. As primeiras crises, lembro-me bem, anos atrás, davam a sensação de água nos pulmões, tamanha a angústia da imprevisibilidade.

Hoje entendo que, pela falta de prática e de tempo dedicado à produção, arbitrariamente a parte reservada ao talento artístico do meu cérebro sai em recesso e me deixa a ver navios. Uma punição severa à minha escolha particular de fazer da literatura hobby.

Mas que culpa tenho eu, se o mundo transborda informações maiores que as vinte e quatro míseras horas do meu dia? Como posso inundar de tinta todas as folhas de papel com minhas indagações, se o mundo se compromete a suprimir meus devaneios: Google.

Não tenho motivações quando o que tenho para contar, desabafar, perguntar, está ali, na ilha ao lado, mastigado e digerido, esperando pela navegação nos mares WWW. E não sou o nostálgico tinhoso que nega o progresso. Compactuo da passividade intelectual como cordeiro.

E, pela lã que me cobre o dorso, tenho essa culpa. A preguiça de pensar quando o objetivo for facilmente atingível. E, se possível, simples. Convenço-me da resposta para a pergunta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais: 42. Como não? Um brinde ao fácil! Ópio.

O elixir da sabedoria rasa. A vitamina de letrinhas triturada e brindada goela abaixo, inodora e insípida. Declarada de mil formas, por mil mãos e em mil vocábulos diferentes. Não mais a verdade, mas, a democrática liberdade de ouvir o que se quer com as palavras mais belas.

O compromisso litúrgico com a alienação. As horas impostas desdenhosamente à coisa alguma. A vida que passa na nossa frente sem freios nem vontade de diminuir o passo. Nosso comprometimento com a falta de propósito. Feliz alienação.

E assim vou levando, fingindo que a angústia implosiva da falta de criatividade, quando reconfigurada em ódio, nem me dói mais. Que a inspiração, quando retoma, vem em avalanche inovadora e acumulada. Como se o tempo acompanhasse meu fôlego asmático.

Mas não reclamo, por certo, da minha capacidade indiscutível de me enganar, pensando enganar os outros, com uma pequena porção de palavras descontextualizadas. Interrompo essa declaração romântica ao nada, com a mais sincera das palavras escritas aqui: Desculpe!

Um comentário:

Slope disse...

Não há do que se desculpar... escreva e foda-se quem estiver lendo. Nós podemos clicar "Bum!" e não pediremos perdão por isso.