domingo, 25 de julho de 2010

Drexler: Sem fronteiras



Sexta-feira, vinte e três de julho, São Paulo e eu me acomodando em um dos melhores shows da minha vida! A poucos dias de agora. Ainda estou com o cheiro das melodias impregnado em mim e, espero que se dissipe com a velocidade desapressada dos pequenos prazeres.

E um prazer coletivo, que de pequeno fica apenas a referência. A massa uniforme de fãs, simultaneamente, constatou na noite instavelmente paulistana do Via Funchal, o talento e o carisma transbordantes de Jorge Drexler, reaportado mais um ano no Brasil, em outro julho.

O espetáculo que, já antecipo, durou cerca de duas horas (ininterruptas), passeou pela carreira do músico entre as canções do novo álbum, Amar La Trama, e alguns de seus maiores clássicos, rearranjados. Boas surpresas também encheram os olhos e os ouvidos.

Desde quando pisou no palco, Jorge, sereno, demonstrou total controle da situação. Estava muito à vontade de estar ali e não cansava de declarar, entre piadas singelas e apresentações, que o valor das presenças (nossa e dele) era recíproco.

Tocou, nos presenteando em tom de suspense e, fazendo da bossa, tango, Sampa do Caetano (vou deixar essa frase confusa como ficou, por diversão). E ganhou de vez a platéia enquanto intercalava versos em bom português e castelhano na Ipiranga com a San Juan.

Tocou mais a frente Disneylândia que, surpreendeu apenas a mim por conhecer a versão dele mas não a original, dos Titãs. Já tinha assumido a composição como uruguaia e gostava, desrespeitando copiosamente Arnaldo Antunes. O Brasil não saiu de cena com Drexler.

Anunciou a presença de um amigo, para tocar Doce Solidão de Marcelo Camelo. Esperei por Moska, confesso, mas entrou no palco o próprio Camelo, feliz. Tocou só uma música, recebeu elogios rasgados de Drexler e promessas de parcerias futuras. Novo tempero ao espetáculo.

Por isso tão difícil, entre todas as boas surpresas, definir o ponto alto do evento. Tentei escolher durante o show, mas, em casa e com calma, decidi que, entre o soneto declamado e o arranjo novo para Se Va, Se Va, Se Fue, fico com o coro em uníssono de Guitarra y vos.

Com muito carisma, Jorge agradecia os aplausos e cantoria, julgando-os indispensáveis, mas, em Guitarra y vos pediu silencio durante as estrofes e participação no refrão. Emendou até um carinhoso “shh” a uma fã mais exaltada, mas, riu da incapacidade da menina calar-se.

Não houve nenhum momento tenso, justamente pela atmosfera de alegria e disposição criada pelo uruguaio e sua banda transnacional. Todos muitos modestos, da percussão ao trombone, estavam felizes por estarem no Brasil, como disse Drexler.

Críticas apenas ao excesso de luzes, no começo: Na área das mesas para auxiliar os atrasados (dessa vez não estávamos entre eles); às nossas costas (uma repórter decidiu fazer uma passagem do nosso lado); e no palco (uma luz roxa cansava a vista na primeira canção).

Do contrário, vislumbre. O show caminhava para o fim quando a banda, de volta ao palco após uma pausa, tocou Todo se Transforma e se despediu. O invariável bis estava anunciado porque Al Outro Lado Del Rio não havia sido executada e, música de Oscar, não podia ficar de fora.

Jorge cantou sozinho, a cappella, em um tom que parecia desdenhoso ao seu maior sucesso, mas, aos poucos, fomos todos entendendo que se tratava de um novo arranjo também. Artista e platéia, juntos, criando uma nova melodia, livre de instrumentos. Peça rara.

Depois de Soledad (sem Maria Rita) e La Trama Y El Desenlace, encerrou com Sea, deixando uma satisfação pessoal de, mesmo sendo um fã desleixado, poder arriscar meu patético castelhano bis afora e, quando das luzes acesas, suspirar esperançoso por El Fuego y El Combustible que ele, caprichosamente, deixou para o próximo show, ano que vem, julho, provavelmente.

2 comentários:

Tatiana disse...

Uau! Realmente bem melhor do que sua resposta.
Fiquei até com vontade.

Má! disse...

Agora intendo cada detalhe... sem palavras para uma apresentação de tal qualidade e carisma! estou apaixonada!!! Mais que nunca...