Estendo a mão. Lá embaixo um
precipício. Estico os dedos com toda a minha força, estão quase se
desmembrando. Olhando de perto, bem perto, é possível ver as falanges soltas.
Bobas e flácidas sob a pele. O braço formigando range e causa desconforto. Não
desisto.
As veias do pescoço evidenciam
a força sobre-humana que aplico para te alcançar. Desafio os limites da
minha elasticidade. Desloco ombro e cotovelo. Ganho três ou quatro centímetros.
Bastam. Suas mãos tocam finalmente as minhas. Unem-se com força e com liga.
Um alívio despenca, afinal,
para o infinito do precipício. Você não. Você se agarra ao meu braço, morto.
Inerte e bambo feito cipó. Sinto os ossos da mão se confundirem entre si. Sinto
o calor do teu corpo, abraçado ao meu braço. Não tenha medo, vem! Que agora é
só subir.
Escale com cuidado a corda
epidérmica, antes que rompa. No alto do bíceps, sinto as fibras do músculo
rompendo-se uma a uma. São poucas, tome cuidado. Não resta muito tempo, vem! O
tendão supertensionado estoura e treme o corpo todo. Não solte agora, já quase
no topo!
A pele pálida, feito bala de
goma, reserva todos os ossos em uma grotesca bolsa, na extremidade inferior.
Isso pesa e diminui o seu tempo, vem logo! O sangue, grosso e quente que emerge do
ombro, provoca uma cachoeira viscosa e deslizante. Se agarre com mais força!
Um comentário:
Nossa, que angústia que vai dando...
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