domingo, 5 de fevereiro de 2012

Meu Adorável Corpo Renascentista


Não é fácil, devo dizer. Essa coisa de conservar, abaixo do pescoço, um corpo perfeito em cada curva e saliência, é tarefa hercúlea e, por isso, admirável. Ok, ok, obrigado! Essa minha devoção aos pesos e aos alteres. A obsessão pelos bíceps e tríceps e quadríceps. E trapézio.

Esse desejo incontrolável pelo esforço físico maior que a força muscular do meu físico discreto. O suor que escorre pelo peito, abdômen e panturrilha. Os gemidos guturais, como gritos de ossos quebrados, são prazeres inadjetiváveis. Dos quais eu, simplesmente, não compactuo...

Porque pelo corpo que nos é vendido por aí, é preciso um, de três fatores (além da vontade, que é força mãe): Viver disso, ter tempo para isso ou abrir mão de outros issos, por isso. Eu ordinário, não caibo e, portanto, vivo a frustração de uma inconveniente saliência abdominal.

Não inconveniente que me impossibilite das acrobacias cotidianas que me cabiam desde menino. Mas inconveniente ao mundo, um apêndice moral do culto a uma saúde que ignora as condições mínimas de saúde, já há um bom tempo. E tenho vergonha dessa gordura pouca ali.

Porque me convenceram que é de se envergonhar mesmo! Porque, quando adolescente, tímido e inseguro, confiei que um corpo talhado e rijo me arremessaria a mulheres antes inatingíveis e que isso dissimularia minha incompetência para a argumentação.

Por sorte e, com o tempo, meu vislumbre calhou de ser maior na arte da retórica que nos supinos e roscas scott. Não à toa a tal da protuberância abdominal. E não que, necessariamente, um ou outro. Mas eu, no âmago da minha preguiça, jamais os dois!

Por isso insatisfeito, sempre, mas nunca infeliz com o destino que as coisas tomam. Porque cedo ou tarde descobrimos que somos as nossas escolhas e, portanto, erramos menos do que pensamos. E, se não atraente nos músculos, então no verbo. Há virilidade nisso, não?

E, mesmo que nunca num corpo renascentista, o esforço por uma cabeça iluminista, apoiada sobre a massa dadaísta que caminha à libertação do encarceramento do corpo. Chocolate, cerveja, bacon, ovos e eu ali, lambuzado, calçando (quando disposto) meus tênis de corrida.

2 comentários:

Anônimo disse...

Inteligência é afrodisíaco!

Fabiano Malta disse...

Já ouvi isso antes! ;)