Acabo de ser tele transportado para o universo bizarro e belo de Almodóvar. E ainda não voltei! Aliás, nem sei se volto porque, também, não sei se quero. Quanta raiva! Essa loucura poética (qual não?) e tão bem administrada que busco, incessante, feito o graal de mim.
Pedro Almodóvar, entre acertos e muito poucos erros é, no cinema, aquilo que eu queria deixar impresso e assinado. A bizarrice tão improvável e insana quanto livre e exata. Almodóvar brinca com os limites da invenção como se à exclusiva ingestão de antipsicóticos!
Chivas com Haldol, por favor! Duplo e sem gelo... Para compreender mas, mais que isso, estar lá dentro. Se alimentando e se extasiando dessa criatividade desenfreada e intimíssima. Uma porta para Almodóvar. No melhor estilo John Malkovich de Kaufman (gênio para depois!).
Mas nem sempre assim. Em 1994, o primeiro encontro: Almodóvar, Eu, HBO e Kika. Total fracasso. Horror, desnorteamento, trauma e os treze próximos anos sem estômago para o diretor. Mas, pobre de mim, só dez anos e previa apenas peitos desnudos e roupa de couro.
Nunca me atrevi a dar nova oportunidade à sofrida Kika, mas, em Volver superei o preconceito, alcançando o mínimo interpretativo que Pedrinho esperava de mim. E levei muitos minutos cego que Maura era de fato um espírito (spoiler?). Eu estava aprendendo...
Fora da sala o encanto tardio pelas pirações sufocantes do diretor abriram as portas para Má Educação, Tudo Sobre Minha Mãe, Abraços Partidos (único renegado) e o impecável Fale com Ela. Que cedeu o posto de obra prima hoje, para A Pele que Habito pois, obra máxima!
E eu cheio de melindres... Porque até então, Almodóvar não era unanimidade. Ainda havia a memória turva de Kika e a frustração recente de Abraços Partidos. E críticas recentes sobre o desatino da nova obra me deixaram temeroso. E não menos confuso pela classificação: Terror!
Mas não cedi aos alertas e, que bela surpresa, a melhor oferta que esse espanhol perturbado já me fez! O filme trata de muitas coisas, trata, de certa forma, até das mesmas coisas. Trata-se de um autêntico Almodóvar, mas não, não se trata de terror em nenhuma instância. É mais!
Antonio Banderas é um cirurgião plástico com muitos motivos para ter a personalidade que tem. Marília, sua governanta e braço direito é o perfeito Fritz (de Frankenstein) e o resto, bem, o resto é a previsível e adorável sucessão de surpresas tão almodovarianas que só ele mesmo!
E novo em mim, esse encantamento pela direção de um filme. Porque eu, sempre mais verbal ao visual, era de Kaufman à Jonze, por exemplo. Mas se somos com quem nos relacionamos, assumo agora a unanimidade de Almodóvar! Da seleta classe dos tão bons que invejo.
3 comentários:
define: Intenso, doentil e genial!
Afirmação? Definitiva...
mais que afirmação! FATO!
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