quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Uma Casualidade

                                                                  Arte: John Malta (Rá!)

Usava um vestido preto, bem justo, que evidenciava as curvas enxutas do corpo de meia idade, além de um belo decote e uma generosa visão das pernas desnudas. Entrou no bar ignorando os olhares famintos dos pervertidos e o descobriu, sozinho no balcão, com um copo de vodka.

Sentou-se na banqueta mais próxima e arriscou contato visual. Parecia irritado com a vida e isso a provocava. Ele não percebeu sua presença. Se aproximou mais e curvou-se para o garçon: “O mesmo que ele está tomando, e traga uma nova dose para o cavalheiro”. Sorriu.

Ele a fitou sem muito entusiasmo e voltou para sua vodka, encerrando a sexta dose em um só gole. Instaurou-se algum tempo de silêncio até que novos copos chegassem. Ela ofereceu um brinde e bateu seu copo no dele, antes que concordasse, ou discordasse da oferta. Beberam.

O modo como a tratava teria feito qualquer um perder o interesse. Mas ela não parecia desmotivada. Aquele homem, já embriagado, tinha tudo o que ela procurava. O aspecto bruto, amargo e desinteressado, era o que a excitava. Naquele homem. Tinha que ser aquele homem.

Sem pestanejar, despejou: “Você é um homem bonito, porque está sozinho?” –“Porque eu quero estar sozinho.” – “Talvez você só precise da companhia certa.” – “Me deixe em paz”. – “Então olhe nos meus olhos e diga que me quer longe.” – “O que você quer comigo, afinal?”.

Essa era a abertura que ela precisava para conquista-lo finalmente. Depositou a mão sobre sua coxa esquerda e inventou qualquer besteira sobre destino e magnetismo. Ele sorriu desinteressado. Então ela jogou os cabelos por cima dos ombros e ele, enfim, entrou no jogo.

Perguntou sobre a obsessão por homens casados e ela fingiu não saber se tratar de um homem comprometido. Então ela perguntou sobre o matrimônio e ele respondeu não estar nos melhores dias. O confortou dizendo que qualquer mulher amaria um homem como ele.

Perguntou se também era uma mulher casada e ela, categoricamente, respondeu: “Acho que hoje não...” – Um novo sorriso, menos defensivo, destacou-se nos lábios do homem. Mãos se tocaram sobre o balcão. “Você o ama?” – Ele perguntou como se realmente se importasse.

“Sim, o amo.” – “Então porque isso?” – “Justamente porque o amo, você não entende?” – Modo estranho de demonstrar, não acha?” – “O amor é uma coisa estranha, eu poderia estar sozinha em casa agora, mas aqui estou.” – “E o que imagina que vai acontecer conosco?”.

Ela pensou por um instante e brincou com os dedos no gelo da dose de vodka pura. Olhou no fundo dos olhos dele e aproximou a boca de seu ouvido: “Só duas coisas podem acontecer conosco, nos despedimos aqui e nossa vida continua a mesma, ou saímos juntos pela porta.”.

Talvez fosse o álcool, talvez fosse uma conjunção de fatores, mas, pela primeira vez naquela noite ele quis chorar. Porque não entendia a vida tão fora de rumo, e porque queria, sinceramente, sair com aquela mulher dali. “Você não entende o que está me oferecendo.”.

“Vamos dar essa chance a nós dois?” – “É o que mais quero.” – “Vou te fazer o homem mais feliz do mundo!” – “É só o que espero de você.” – “Eu te amo” – “Eu também...” – Envolveram-se em um beijo apaixonado e, reconciliados, acordaram felizes, em um motel perto dali.

2 comentários:

Tachiana disse...

Até que romantico.

Fabiano Malta disse...

Quebra o galho?