terça-feira, 27 de setembro de 2011

Um Dia Você se Dá Conta de que Eles Cresceram e Nada Mais Será Como Antes



Pois é, e logo vai acontecer de novo. Um dia terei de enfrentar essa constatação outra vez e, muito provavelmente numa causa mais nobre e íntima. Mesmo assim, a relação familiar, de encanto paternal e absoluto, que dediquei a esses “meninos”, é algo que... Findou-se, então.

Estive, depois de muita, mas muita expectativa, na Arena Anhembi, no último dia vinte e um de setembro, para prestigiar pela terceira vez, aquela que é a melhor banda de todos os tempos (no que posso medir). Não filhos meus, mas, em sentimento, a mesma clareza de afeto.

Explico: Conheci-os aos dez anos, enquanto debutavam no showbizz, enfiando em meus tímpanos seus primeiros sucessos mundiais (Give it Away e Under the Bridge). O rock era novo em mim. Suas doidices audiovisuais e a postura enérgica ferviam meu sangue pré-adolescente.

Era a abertura para o estilo que trilhou as fases mais marcantes da minha vida. E eles eram os responsáveis. E o vórtice musical que se abriu diante de mim depois deles! Acompanhei com a distância inocente e dispersa da infância a evolução deles e, no próximo álbum eu estava lá.

A essa altura eu já era tão fã quanto qualquer outro e compartilhei das mesmas impressões que todos eles, ao mesmo tempo, quando comprei aquele álbum vermelho, de capa perturbadoramente meiga na semana do lançamento. Foi meu primeiro álbum, meu xodó.

Alguns meses depois, fundido ao CD como uma espécie de walkman literal, me orgulhava ser reconhecido na rua pela devoção. Na extinta e saudosa CD-Way, bastava eu entrar para que o simpático proprietário me introduzisse às novidades musicais e souvinéricas da banda. Eu!

Acabei crescendo e as necessidades foram se modificando e se preenchendo. Eu, agora, também me interessava por filmes, garotas, futebol e já ensaiava uma vida noturna (também conhecida como matinê). Mesmo assim havia espaço de sobra em meu santuário sociocultural.

No álbum a seguir, predominantemente azul, a popularidade da banda atingiu níveis pópicos e, pela primeira vez eu precisei justificar meu apreço Caxias. “Isso não é rock, os caras se venderam!” – Me diziam. “Vão vocês à merda!” – Era minha resposta, embasada e clara.

Em 2001, caiu do céu a informação que eles encerrariam o maior festival de rock desse país. Frase polêmica, entretanto, lá estavam eles no último dia do Rock in Rio e lá estavam eu, desde o meio dia em pé, só para vê-los de perto, pela primeira vez na vida. E também me veriam!

O evento divertidíssimo teve muitos altos e baixos. Uma infinidade de bandas, boas e ruins, e me rendeu boas e inesquecíveis memórias. Mas o show, aquele que deveria ter sido o show da minha vida, acabou uma apresentação apática e curta, quase dispensável, não fossem deuses.

Veio um novo disco e, novamente as críticas ao estilo cada vez mais subvertido ao pop. Foi nessa época que eu comecei a entender o que eu sentia por eles. Essa sensação paternal que é tão nítida para mim hoje. Os discos realmente não melhoravam, mas, tampouco pioravam.

O que acontecia era uma evolução natural. Inevitável. Como acontece com todos os filhos, que deixam a beleza pueril e maravilhosa da infância para se tornarem adolescentes problemáticos e histéricos. Amor de pai, dos pais, consegue tolerar com o mesmo carinho, esse martírio.

Um novo show me convidou, um ano e meio depois, a reencontra-los em São Paulo. O comportamento foi outro, como se minha agonia e ansiedade em uma apresentação digna de quem eles eram para mim. E, salvo todos os percalços, o melhor show da minha vida até ali!

Agora nada mais tinha que ser provado, nosso pacto estava concretizado. Enfim toda minha entrega havia sido recompensada. Depois, nossa relação atingiu uma fase estável, de confiança e cumplicidade. Eu não precisava ser surpreendido e eles quase não ousavam. Palco ou discos.

A última surpresa que tive veio na semana passada, no show. Aliás, desde aquele show de São Paulo, dois discos surgiram, um deles há poucas semanas. Nada de novo, embora nada daquilo que me encantou há dezoito anos. O som, por fim, acabou me fazendo entender e aceitar algo.

Mas, para explicar, volto ainda mais no tempo. Quando os conheci, já havia dez anos de banda e muita história boa. Muita música (ainda melhor) em três discos ousados e primorosos. Muito funk, psicodelia, energia, amor e Rock’n Roll. Nunca pretendi aquela fase para mim, e não era.

Meu momento com eles veio do encantamento de 1993 em diante. O resto foi só uma boa surpresa, descoberta pelo caminho. Como saber que o filho, ainda no ventre, é um pequeno gênio em seja lá o que for! Portanto, considerando uma banda com minha idade, só uma coisa:

Eu cheguei no meio do caminho e a história dos Chili Peppers, até agora, é dividida em três momentos: Primeira Fase, Período Clássico e Contemporâneo. Sou feliz de tê-los conhecido no Período Clássico, o mais bem sucedido deles. Mas hoje não pertenço mais a isso, ao futuro.

Por uma série de fatores sociais, naturais e temporais. Mas ter estado no último show. Mais do que a experiência introspectiva da solitariedade, percebi a quantidade de jovens que não tinham ouvidos enquanto eu já ouvia Blood Sugar Sex Magik. O momento, agora, é todo deles.

E não há turbulência. Ou crise. Só o que posso, é aceitar que os filhos crescem e não precisam mais da gente. Estão bem encaminhados na vida e têm, analogicamente, uma nova família para cuidar. O amor aqui continuará o mesmo, incondicional, mas, avô, na cadeira de balanço.

3 comentários:

Tatiana disse...

Eles sabem que você terminou com eles? Não se termina um relacionamento pela net. Muito covarde da sua parte! Ahahahah! Te amo.

Guss disse...

Você não acha que mesmo crescidos alguns filhos merecem uns sopetões para, quem sabe, voltar a olhar pro mundo com olhos mais... enérgicos?

Abraços.

Fabiano Malta disse...

Hahaha, mas será q esse é o papel dos "pais"? Filhos crescidos não acatam conselhos sopetídicos de pais retrógrados!

Concordo com você e faz falta, mas, mais que conformado, admito (até orgulhoso) que eles exigem mais do que posso oferecer hoje... "Filhos a gente cria para o mundo", meu pai coruja poderia dizer!

E Tatiana, se eu tivesse que terminar alguma coisa, seria uma relação pertubadora e incestuosa, não acha? ahahahah Sua linda, te amo!