quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Presidiológioco


Amanheceu. Esse sol lá de fora que não me esquenta nem as palmas. Melhor ir para o quintal. Não é grande coisa mas, ao menos me permite esticar os membros um pouco. Acho que vou dar uma cagada. É isso, uma bela e demorada cagada do alto de alguma pedra. Nào, melhor esperar o pessoal chegar. Eles sempre riem das minhas cagadas. Me diverte, a estupidez deles.

Eu fico perambulando por esse pequeno espaço, dissimulando um exibicionismo que me encheu a paciência. E já não tenho mais nenhuma vocação para o entretenimento. Aliás, vocação para porra nenhuma. É cabana, quintal, quintal, cabana. Puta tédio dos infernos! Principalmente depois que vetaram as visitas da Francisca. Naquela época eu me divertia.

Trepava nela como um louco. Montava na megera e babava, e gritava, e lhe dava uns sopapos. Ela gostava disso. Gostava da minha virilidade. Devolvia alguns socos no ar, outros na minha cara, mas, no fim da contas, gostava dos encontros que tínhamos. Era quando eu dispunha da melhor plateia. Fãs, arrisco dizer. Vibravam e nos atiravam pipocas, até que caíssemos de lado.

Os anos dourados! Mas a vadia deu de dizer que eu estava a matando aos poucos e então trataram de reduzir nossos encontros até que, finalmente, proibiram-na de vez de entrar na minha cela. "Pior para ela", foi o que pensei no início. Vagabundas se tem aos montes por aí. Mas sabe que depois de um tempo descobri que só existe uma vagabunda para cada cafajeste.

Aí a situação ficou insustentável. Tédio, remorso, raiva e uma carência tão forte quanto ridícula. Não restava em mim mais nenhum resquício daquela virilidade e auto-confiança do tempo da Francisca. Minha vida sem minha vagabunda era só uma vida vagabunda. Maldita hora para conhecer o amor. Eu já estava perdido para o mundo e corrompido nos sentimentos.

Mas ficava lá, dependurado no galho mais alto do meu cercado, olhando para minha selva, do outro lado do muro. A selva que um dia foi minha e que poderia ter sido minha e da Francisca, se tivéssemos feito as coisas direito. Direito o suficiente para não termos sido capturados, pelo menos. Acabaram me dizendo que ela tinha sido libertada. Nem se despediu de mim, ingrata!

Com certeza já estava trepando com algum almofada da sociedade, dando-se ao luxo de se considerar um deles. E eu nessa vida de merda. Servindo de atração para crianças e velhos desocupados. Vontade de voltar para as ruas e para o crime. Tomar a Francisca das mãos bem lavadas do idiota que estiver cuidando dela para mim e corrompê-la novamente.

Aliás, aí está minha única motivação nessa vida: Francisca! Bom, por um lado. Me dá esperança ao abrir os olhos, de manhã. Por outro lado, uma bosta de motivação. Jamais conseguirei sair daqui sendo uma das atrações. Por isso atiro meus excrementos na tela da jaula, para tentar satisfazer e dissipar meus espectadores. E ter um pouco de privacidade solitária, nesse fim de mundo.

Um comentário:

Brow disse...

Hahaha, genial pequeno irmão!