quarta-feira, 22 de junho de 2011

Equinócio



A colisão inevitável entre os universos. Duas estrelas rompendo barreiras galaxiais. A atração astrofísica que aproxima corpos de densidades absolutamente distintas. A inércia. A órbita. O vácuo. Todas as adversidades, tão débeis ante o controverso desejo do encontro. Norte e sul.

Um par de pessoas, randômicas. Mundos diferentes, o mesmo planeta. O espírito dominador. A necessidade da conquista. A soberania.  O desequilíbrio. Hormonal, visceral, físico e psíquico. A lei da selva, o mais forte. A pujança. A mutualidade subtraída à individualidade. Um só.

São duas pessoas! As mesmas duas. Outras duas. Faz diferença? São todos iguais, afinal. Mundos diferentes: É disso que se trata. Dois que se cruzam e dissimulam a fusão integral, acreditando no intangível elemento à mistura fina, que preencherá o buraco negro existencial.

E já sabem, imediatamente, que num relacionamento de dois, um só. Um dominante, um recessivo. Essa é a física e a biologia de dois corpos (celestiais?) que optam pela torpe aglutinação das massas. O duelo começa, a conquista. O tempo dirá quem domina ou recebe.

Tão logo se cruzam, dois astros perdidos, faíscas no céu. Fogos de artifício. Sem artifícios. É o momento. É honesto. Brilham as estrelas. Incandescente horizonte. A mais intensa luz, nunca antes emitida nem nunca, jamais, repetida. Parece eterno, tão interno. Explode a supernova.

Sacodem os corpos, se envolvem, se enlaçam, se trançam, se transam. Parecem um só, um pouco só. Um pouco de cada. Mas já. O sacrifício negado, o sutil relevar. O sacrifício renegado, a cegueira. Nunca mais um pouco dos dois. A supremacia, a alienação. O planeta e o satélite.

O brilho estelar, hipoteticamente roxo, assume o azul, ou o vermelho. Assume uma cor. Não sólida. Conserva em si elementos do outro. Azul avermelhado, vermelho azulado. Houve a fusão, alguém duvida? Não plena, pois, nunca plena. Domínio estabelecido. Era o mais forte...

Finda-se a guerra? Não tão cedo. Até a morte. Independe a derrota e o derrotado. Até a morte! Só o derrotado morre. Feliz. Morre de amores. Para que num dia de outono, noutro de primavera, se encontre em equilíbrio. Dois dias. É que nem o equinócio, justo que só, é um só.

Nenhum comentário: