quinta-feira, 16 de junho de 2011

Conduzido


Meu humor mudou. Mais que isso, meu comportamento. Venho, de dez ou doze anos para cá, assumindo uma visão mais cáustica sobre a vida, menos maniqueísta e crente. Na mesma medida, acreditem, sendo uma pessoa mais arrojada e divertida, dinamicamente. O moderno.

O sarcasmo tem assumido boa parte das minhas expressões e, curiosamente, me tornado mais bem-vindo. Ando completando frases alheias com comentários irônicos e frios, como se soberano àquela pessoa, melhor que ela. Sou eu ou a vida cotidiana está virando um sitcom?

Ainda me lembro da decisão consciente de sair por aí parafraseando Chandler. Descolado e bobo, mas, acidamente engraçado. Nunca pretendi Joey, porém, incuti o cargo ao amigo mais bem apessoado. Foi assim o início, durante a descoberta dessa nova filosofia comportamental.

No embalo dessa transmutação pop, me tranquei para uns poucos amigos. Claro, fazia parte do personagem. O resto do mundo tornou-se uma bolha amorfa. Coadjuvantes. Não que fosse um problema, sempre fui dos que se relacionam com poucos. Avancei firme à reinvenção.

Pelo caminho, fui me descobrindo J.D Dorian, melhor, incorporando suas características falsas. Cênicas, por assim dizer. Me tornei um híbrido. Nem mais a educação dos meus pais, nem tampouco, o que aprendi a ser na escola. Os valores haviam sido sumariamente subvertidos.

Me tornei menos eu mesmo e um pouco mais o produto americano da comédia. Rápido, inteligente, heróico e inspirador! Deixei de acreditar nas coisas que me faziam um ser melhor. Eu acreditava no que eles acreditavam. Personagens, ficção. Chandler, J.D e suas histórias.

Então, quando me descobri querendo entender as mulheres, já não necessitava mais dos conselhos sábios do meu pai ou dos amigos, um tal Charlie Harper me conduzia. Quando me tornei sádico demais para o amor, Hank Moody deu o tom e dissimulei algum princípio moral.

Hoje o que sei é que sou um pouco disso tudo, mais que os personagens, um apanhado geral do conceito sitcom. Minha essência se perdeu em algum lugar em meio ao zap dos canais. Para eles, missão cumprida. Para mim, risos ao fundo à espera de aplausos furtivos de admiração.

Um comentário:

Tati disse...

Eu preferia ser a Rachel, mas acho que sou a Monica.
Na verdade...uma esposa desesperada!!! Ahuahauhau!!!