segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Meu Amor Pela Política


Estou em ponto morto no cruzamento de duas ruas tradicionalmente movimentadas. É sábado e o trânsito por aqui é sobrenatural. Não é certo para minha pequena cidade semi-metropolitana, tantos carros na rua com o mesmo ignóbil destino. Não é certo para mim.

O plano, aliás, não era estar aqui. E estaria perfeitamente sob controle se eu não fosse de deixar tudo para a última hora. Mas, desleixado que sou, mereço o trânsito sem fim. E sem origem também. De onde estou, o mar de carros é mar aberto e nós todos boiamos.

Nós, somos eu e os outros mil carros, cada um com sua rota traçada, poucos com a necessidade irrefutável de estarem ali, todos atados à mesma fila asfáltica sob o sol do meio dia. Eu até poderia não estar, mas, tarde demais. Alguns cartazes e bandeiras políticas, divago:

É período eleitoral, vejam só. Todos nós, do trânsito e do mundo, democratas e republicanos, cristãos e muçulmanos, temos o ódio unânime e sacramentado à campanha eleitoral. E, fato, não somos de escolher políticos por bandeiras ou santinhos. Não somos, aliás, de escolhê-los.

Dois problemas crassos, mas a campanha é algo que provoca a ira, durante essa fanfarra eleitoral. Por aqui um carro por minuto e esse sol. Partidários e panfleteiros descansam refrescados, nos bancos de Nhô Gomes. Eu não: Ponto morto, primeira marcha, ponto morto.

Mas qual o propósito da corrida à cadeira do congresso, do senado ou da câmara, afinal? Não é político. Aliás, como levar a sério um sistema político que não admite o mínimo de restrições ideológicas? Isso não é democracia é várzea! Celebridades falidas no congresso é várzea!

Não precisa ser, é evidente, se o interesse for social e não fiscal. Todo brasileiro, celebridade ou anônimo, tem direito a aspirações políticas. Pois que seja, então, obrigação, tornar-se competente e profissional. Mais que pelo dinheiro apenas. Como em qualquer outra profissão.

E profissionalização da política! Aulas de história política: Maquiavel, Marx, Hobbes, Rousseau; economia e gestão. Governo não é renda extra, afinal não é pouca a renda! E matemática simples: Não dá para ser bom em duas coisas ao mesmo tempo. Ou se dedica ou se desiste.

Isso considerando o sistema que vivemos, de administração popular, de governantes eleitos por voto massivo. O que já não parece certo, essa brecha em conceder o controle e o poder a poucos e aceitar, vendados, que no fim nós temos alguma força popular.

O golpe veio, num certo 68, e levamos, com toda nossa força popular, trinta anos para derrubá-lo! Poucos no controle é sempre excesso de poder (megalomania), e vai ser em qualquer sistema. Inclusive nessa nossa “pouquigarquia” disfarçada de democracia.

Eu devia ter estudado, nas minhas sutis pré-disposições punk da adolescência, a filosofia anarquista... Simpatizo com ela. Utopia por utopia, ela soa tão mais modesta. Uma nova visão de poder, mais diluída. Todo mundo igualmente responsável, menos responsabilidades.

E nenhuma obrigação eleitoral! Direito a voto... Abro mão, em nome de todos aqueles que lutaram pela obrigação do voto, de colocar alguém que tomará decisões em benefício próprio e partidário. Não, não abro mão, compactuo com o sistema, sou fraco e não sou mártir.

Só que não cedo à tentação circense de acatar as campanhas. Não voto em bandeiras ou santinhos. Não voto em comício ou televisão. Nem voto em intrigas conspiratórias, em podres alheios. Voto apenas no sistema, na esperança que um dia Nulo se eleja e, enfim, repensemos.

Toda essa pataquada digna de Odorico Paraguaçu, toda essa algazarra de vitória, como se tratasse disso: Vitória de um ou outro partido. Como se escolas de samba ou times de futebol. Como se não fôssemos todos brasileiros e tivéssemos interesses sociais coletivos.

Devo dizer, concluindo, que finalmente cheguei em casa. Onde precisava ir não consegui, me livrei do congestionamento tarde e as portas estavam fechadas. A razão do caos? A principal avenida da cidade interditada. Era um grande comício. A política e meu amor por ela...

Um comentário:

Tati e Alice disse...

Gosto de política tanto quanto voc; porém, muito boa sua escrita.
Beijos amor meu!