Não é que me escapem, não,
elas estão lá! Caprichosamente escondidas em algum lugar nebuloso e turvo da
minha cabeça. Não sempre, eu seria injusto. Apenas quando lhes soa conveniente.
E eu costumo achar graça da conveniência coincidir com meu momento literário.
Ultimamente, basta
concentrar-me à tela. Esse imenso quadro branco e luminoso diante de mim com
seu cursor que pisca e me pressiona, como se contasse o tempo ocioso. Nenhum
verbo ou ação. Já reparou que, enquanto a gente escreve, o maldito cursor
desaparece?
Por isso meu alívio mais
sincero e meu lema à digitação: Exterminar o cursor! – Mas como, quando as
ideias não vêm? Especialmente sabendo que estão por aí, sorrateiras e
melindrosas na grande planície baldia do meu crânio. Só de pensar fico ainda
mais anuviado. E oco.
Virou obrigação! Talvez seja
essa a epifania do dia: Escrever virou obrigação! Ao menos deixou de ser um
simples e egocêntrico hobby. Estabeleci metas. Metas chatas e enfadonhas que
sufocam a liberdade criativa. Ao mesmo tempo, metas que me mantêm ativo e
responsável.
O que acontece é que minha
cabeça e eu encaramos muitas coisas de forma diferente. Ela é mais lírica
enquanto eu, prático. Deve ser por isso que venho enfrentando com frequência a traquinagem
amnésica dela, escondendo as boas ideias do dia no submundo do consciente.
Tentando me ocupar a vida com mais
lirismo. E é de se espantar como fervilho nos horários mais inoportunos e
impossíveis do dia. As ideias surgem, ressurgem, se cruzam e se mesclam. É
quase um baile veneziano de trinta pares, impecável. Se eu abandonasse o
praticismo...
Mas, conscientemente, sacaneio
minha cabeça e, enquanto ela teima em evaporar as ideias que já são,
essencialmente, minhas, dissimulo o desespero da falta de assunto e escrevo,
descaradamente, sobre como é estar, absolutamente, sem ideias!
3 comentários:
Haha, muito bom! E pra todas as idéias que resolvem dar as caras em momentos inoportunos, faça como Lady Cottington - aprisione-as num caderninho!
A dica é boa e eventualmente uso desse artifício. Mas as ideias que coloco no papel para serem retomadas mais tarde, acabam virando outra coisa... rs
Não precisa ficar tendo pequenas idéias todos os dias. Tenha uma grande uma vez por semana que causa o mesmo impacto! KKKKKK!
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