Flutuam, como se voassem na
água. Desfilam lentamente seus corpos sinuosos, rajados e brilhantes. Parecem
despreocupadas. Não estão. Eu fico olhando de perto, bem de perto, sem entender
o que querem dizer, mas, mesmo ludibriado pelo bucolismo belo dali, desconfio.
Desconfio que enclausuradas.
Presas e indefesas. E meramente ornamentais. Realojadas do mundo próprio para
um minimundo, estritamente visual. Definitivamente dos outros. Readaptadas a um
pequeno espaço e submissas. Aos olhos e caprichos humanos. Estúpidos.
Estúpidas, entre pedras e
plantas aquáticas. Um habitat tão falso que até mesmo os pardais zombam da
clausura delas. Os pássaros vêm, se lavam na baixa água da piscina inatural,
desdenham das carpas e batem as asas para longe dali, reverberando alto a
própria liberdade.
As pessoas ao redor estão
ocupadas em comer. Salvo uma ou outra criança, com migalhas de pão nas mãos,
ninguém percebe a agonia apática das flageladas. Nem mesmo as crianças,
alimentando-as. Alimentando a pintura podre do aprisionamento. São apenas
crianças.
Levanto da mesa, meus sushis e
sashimis estão entalados na garganta. Afasto com os braços as crianças e meto a
mão na pequena piscina. Saco da água uma carpa trêmula. Epilética e confusa.
Olham-me estranhados, sacam os celulares. Corro para longe com o bicho na mão.
3 comentários:
Gosti!
Eu gosto quando você gosta!
;)
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