Gosto de contos, que são
pequenas histórias. Porque gosto de histórias pequenas, que são do tamanho da
minha concentração e talento. Não sou de gastar tempo demais, porque não me
inspiram mentiras grandes, só as expressas, que pairam mais no ar e imaginação
que na boca.
Mas gosto tanto de uma boa
mentira curta (na dimensão e não nas pernas) que ainda hei de compilar as minhas
nalgumas páginas amarelas, rabiscadas exclusivamente por um estimado artista. E
que não seja essa uma mentira a mais. Na dimensão ou, por Deus, nas pernas!
Mas hoje me veio uma súbita
luz! E é hoje mesmo, esse quarto dia de maio do ano de dois mil e doze, e tudo
o que eu queria hoje era a graça de mais de sete bilhões de histórias. Histórias
pequenas e de todos vocês que, durante o mesmo instante me diriam o que estão a
fazer.
No escritório, no trânsito, no
banheiro, no açougue, na cama, no jardim de infância ou colo da mãe. De pronto,
queria saber o que fazem vocês, os sete bilhões e tantos de seres humanos que
transbordam esse pequenino planeta. As aflições, superações, frustrações e
aspirações.
Mas não as grandes coisas
(passíveis de mentiras). Só as espontâneas, o agora! Porque quero a poesia
escondida na coisa nenhuma. No nariz que coça e no medo do escuro. Que passa na
cabeça de um bebê, assustado e recém-expelido do ventre quente e seguro da mãe?
Que pensa um velho com seus
noventa anos, esquecido numa clínica de repouso? Que conclusão tira um autista
de uma briga de trânsito? Ou um órfão adolescente? Um pai de família
desempregado. Um estuprador e um estripador. Um padre sexagenário. Uma
princesa!
Me contem vocês, detentores
disso tudo! De cada uma dessas respostas e todas as demais. Que fazes você que
faz nada além de respirar? Nem mesmo os vegetalizados fazem nada além de
respirar! E é isso que me interessa: Os pensamentos que não interessam a
ninguém.
Porque você não é feito do que
interessa aos outros. Essa é apenas sua arma de aceitação. Funcional e
necessária! Mas sua essência (o aquém dos autos ou fora da foto) é o que me
vislumbra verdadeiramente e carimba sua autenticidade. Aquela bobeira
displicente, a vida.
Então me envie (por texto, voz
ou telepatia) seu último segundo e o anterior. Genial ou trivial. Você cru e despido!
Pois ando meio cansado de mim (ainda que em traje de gala) e, portanto,
disposto a mais de sete bilhões de histórias, inúteis como eu, mas, tão menos mentirosas.
2 comentários:
É disso que eu tô falando!
http://cigarettesandcoffeee.blogspot.com.br/
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