quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Personalidade Icônica (ou o Avesso)

                                                                                 Arte: Enoc Jr.


É bem num certo momento (foi ele quem disse) que tudo muda. No mundo, na vida, no tudo. Quero dizer que, sou do sol (embora na mesma luta de sempre, circular e lenta da antimesmice) e rabugento, mas dou o braço a torcer aos bons filósofos do cotidiano. Tão poucos e puros.

Mas só dou esse braço a torcer quando há a sutileza e a simplicidade da afirmação amena, sem a prepotência da sabedoria unilateral, e nem a arrogância habitual da doutrina de mesa de bar (as vezes, inclusive, pecado meu). Por isso que, quando ele fala, confesso, escuto!

Porque há nele, indubitavelmente, mais cavalheirismo e delicadeza em ouvir a contraposição do oponente debático, que embutir no grosso do intestino uma verdade duvidosa e crua, mau formada e mau consolidada. Pois, afinal, somos todos aprendizes das tais verdades da vida.

E todas elas, digo, TODAS essas verdades, padecem flácidas do absolutismo (literal e apolítico), incrustradas em nós, em nosso meio, como leis sacras e incontestáveis. E aí vem os contestadores, pretensos heróis do dedo em riste. Tão amadores que repilo! Baderneiros...

Porque contestação com dedo em riste nada mais é que alienação da opinião oposta (pecado meu, as vezes, volto a dizer!). E pecado de todos, não fosse a doce exceção à regra. Aliás, pauso para refletir sobre meu sorriso à definição involuntária e precisa do objeto em questão:

“Exceção à regra” – E nenhuma outra coisa que não isso! Não, melhor ainda, todas as outras coisas que não isso: A regra. Porque sua contestação é toda sua, individual e autêntica. A cultura da contracultura. Aquela tal libertação da máquina cultural do “isso e aquilo”.

Seu envolvimento visceral com o ser humano. A expectativa e a disposição em acreditar no delicado modelo da interação inocente. “Será que chove?” – A liberdade criativa de saber (ao menos) o mínimo do todo, para garantir qualquer chance de engrandecimento intelectual.

E sua frágil formação não compete com a poderosa articulação das palavras. Ou com a aguçada reflexão sobre as coisas mais inreflexíveis. Sobre a chuva, por exemplo, e seu poder sob o céu e o sol (rei de mim), tão universal e coadjuvante da chuva, toda mínima e terráquea.

Por isso que, no meio do alto verão e do calor que me agita, admito uma mórbida admiração à chuva. Às gotas potentes e sensuais, capazes de nos subverter na origem das verdades e nos transformar em seres metamórficos. Dispostos ao bem, mas, melindrosos, à espreita do mal.

2 comentários:

Tatiana disse...

Voltei a ler e a gostar das suas coisas. Ops...só a ler, porque de gostar eu nunquinha que deixei.
Amo você!

Fabiano Malta disse...

Por não poder curtir o comentário, vou continuar como sempre, curtindo você, Tatibitati!